Sempre quando fico triste com o mundo penso em portões de chegada do aeroporto. Dizem que vivemos em um mundo de ódio e ganância, mas eu não vejo assim. Parece que o amor está em todos os lugares. Nem sempre é especial ou digno de notícia, mas sempre está presente. Pais e filhos, mães e filhas, maridos e esposas, namorados, namoradas, antigos amigos. Quando os aviões atingiram as torres gêmeas, nenhuma das ligações as pessoas a bordo foram de ódio ou vingança. Todas foram mensagens de amor. Se procurar, tenho a impressão de que você verá o amor simplesmente em todos os lugares.
Essa passagem é a abertura de um dos filmes natalinos mais conhecido das últimas décadas, Simplesmente Amor. Dirigido por Richard Curtis, o roteirista neo-zelandês, que estreou na direção, com esse filme de 2003, após sucessos como Quatro casamentos e um funeral (1994), Um lugar chamado Notting Hill (1999) e O Diário de Bridget Jones (2001), entrelaça várias histórias apresentando todas as nuances de dois sentimentos que nos cercam o tempo inteiro: amor e saudade.
A antologia natalina apresenta histórias como, a do novo primeiro-ministro inglês se apaixonando por uma funcionária da sua equipe; um escritor que se refugia no sul da França para se curar de uma separação e acaba encontrando o amor em uma estrangeira; uma mulher bem casada suspeita que seu marido presenteou a secretária dele; um homem esconde os sentimentos dele pela esposa do melhor amigo; um menino deseja chamar a atenção da garota mais popular da escola; um viúvo tenta ser um bom pai para o enteado que mal o conhece; uma moça há muito tempo espera uma chance de sair com um colega de trabalho por quem está perdida e silenciosamente apaixonada; dois dublês de corpo que se apaixonam enquanto gravam cenas de sexo; um jovem que decide ir aos Estados Unidos em busca de sexo; o astro do rock, em fim de carreira, tenta o retorno ao show business regravando um clássico para o natal.
São muitas vidas, amores que se misturam e que tem como cenário principal a cidade de Londres, atingindo o clímax na noite de natal, pois como é citado no filme: “no natal a gente fala a verdade”. É nesse dia tão especial que todos os personagens se defrontam com a realidade imposta a eles: de que na verdade eles estão distantes de alguém ou de algo que eles amam, de que sentem saudades e de que precisam fazer tudo que for necessário para que conseguir chegar perto das pessoas que amam e encontrar nessa proximidade a felicidade (ou aceitar a infelicidade) da realidade.
Para dar vida a uma comédia romântica tão marcante, Curtis escolheu os atores certos para cada papel: Hugh Grant, Colin Firth (ambos de O Diário de Bridget Jones), Alan Rickman (o Professor Snape de Harry Potter), Emma Thompson (Cruella), Liam Neeson (Busca Implacável), Laura Linney (da série Ozark), Keira Knightley (Orgulho e Preconceito) e o brasileiro Rodrigo Santoro, entre tantos outros.
Pode-se dizer que Simplesmente Amor é um filme datado e atemporal ao mesmo tempo. Suas mensagens de amor e de como lidar com esse sentimento tão volátil dividem espaço com características que marcaram uma época em que era “ok” o preconceito, que para os olhos e ouvidos mais atentos do presente não passam despercebidas, ou seja, a narrativa ao por um personagem em outros país, apresentar personagens gordos e citar figuras LGBTs, cai na xenofobia, na gordofobia, na LGBTfobia e estereotipam personagens. É preciso ficar atento a esses detalhes, que não descredibiliza a obra, mas que não cabem mais na construção de narrativas que enfatizam o amor.
Enfim, Simplesmente Amor é uma antologia natalina que precisa ser vista. Uma fonte de inspiração tanto no cinema, influenciando filmes como Idas e Vindas do Amor e Noite de Ano Novo, quanto para quem está assistindo. É natal, estamos na época mais propensa a refletir sobre a vida com carinho, a encontrar na saudade forças para fazer o que for necessário para estar ao lado de quem amamos e claro, assistir a um bom filme natalino para entrar no clima. 😉
Simplesmente Amor (2003) de Richard Curtis pic.twitter.com/BN8UjfAom4
— Cinematologia (@cinematologia) December 26, 2019
Simplesmente Amor está disponível no Prime Vídeo.