O Acre se prepara para ocupar as ruas neste domingo, 7 de dezembro, no Ato Nacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres, parte da mobilização Mulheres Vivas, que acontece simultaneamente em diversas capitais e cidades brasileiras. Em Rio Branco, a concentração será no Lago do Amor, às 15h, reunindo movimentos sociais, coletivos feministas, familiares de vítimas e mulheres que reivindicam proteção e políticas públicas mais eficazes.
O protesto acontece em meio a uma das piores crises de violência de gênero já registradas no estado. Em 2025, o Acre contabiliza 13 feminicídios, número que coloca o estado novamente entre os primeiros do ranking nacional. Se mais um caso for registrado, o ano empata com os piores da série histórica, 2016 e 2018, com 14 mortes cada.

Segundo o Feminicidômetro, ferramenta nacional que monitora crimes por gênero, o Acre acumula 90 feminicídios e 158 tentativas em seis anos, um cenário que especialistas classificam como “emergência permanente”.
“O feminicídio é a expressão máxima do patriarcado”, dizem organizadoras
O texto convocatório do ato no Acre não poupa palavras:
“O aumento desenfreado da violência contra as mulheres é a expressão de uma estrutura patriarcal-capitalista que naturaliza a violência e tira vidas todos os dias.”
O Brasil é hoje o 5º país que mais mata mulheres no mundo, e o Acre lidera as taxas proporcionais. Para as organizadoras, o momento exige presença nas ruas:
“É tempo de levantar a voz, ocupar as ruas e lutar pela vida das mulheres: vivas, livres e com dignidade.”
Mulheres, homens e jovens são convidados a levar faixas, cartazes e roupas na cor roxa, símbolo da luta feminista.
Dor que se repete: a matança de mulheres no país
A mobilização deste ano tem caráter nacional e responde à escalada da violência de gênero. Somente no Brasil, 4 mulheres são assassinadas por feminicídio a cada dia, a maioria dentro de casa e por parceiros ou ex-parceiros. Especialistas afirmam que o país enfrenta uma “cultura do feminicídio”, termo usado para descrever como a morte de mulheres tem se tornado banalizada, silenciada ou politicamente negligenciada.
O manifesto do movimento alerta:
“Banalizar essa prática é lançar mais mulheres ao sofrimento, à insegurança e à injustiça. A violência é o método de sustentação do patriarcado.”
O texto reforça que o feminicídio é um crime contra a humanidade, mas ainda tratado como tema de menor prioridade pelo Estado.
Análise: ‘Toda vida importa, mas não se pode relativizar o feminicídio’
A advogada e colunista do site Agazeta.net Tatiana Martins, lembra que o feminismo luta por equidade, não por supremacia:
“Nunca é demais lembrar que feminismo não é ódio aos homens. Isso seria femismo. O feminismo defende equidade e respeito às diferenças.”
Tatiana também critica argumentos usados para diminuir a gravidade desses crimes:
“Toda vida é importante. Mas o feminicídio não pode ser relativizado dizendo que ‘homens morrem mais’. A morte de mulheres por seus companheiros carrega um peso social específico: é fruto do machismo estrutural, da desigualdade e da objetificação.”
Para ela, medidas protetivas “funcionam como vacinas” e precisam ser fortalecidas, e não desacreditadas:
“Falsas denúncias devem ser punidas, mas jamais podem servir de desculpa para enfraquecer a proteção.”
Por que o ato de domingo importa tanto para o Acre
Além dos índices alarmantes, o Acre enfrenta desafios particulares:
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interiorização da violência em municípios sem rede de proteção estruturada;
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falta de abrigos e suporte contínuo para mulheres em risco;
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demora na concessão e no cumprimento de medidas protetivas;
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desinformação e baixa escolarização que dificultam denúncias;
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repetição de padrões culturais que naturalizam a violência doméstica.
Organizadoras afirmam que o ato de domingo será também um momento de luto coletivo pelas mulheres assassinadas e de reafirmação política por mudanças urgentes.
O manifesto destaca:
“Acabar com a matança de mulheres é central para qualquer sociedade democrática. Precisamos de programas consistentes de enfrentamento à cultura patriarcal e racista que leva ao extermínio.”
Mobilização nacional
Além de Rio Branco, atos estão confirmados em mais de 15 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Belém e Florianópolis. A orientação nacional é clara: ocupar as ruas e transformar o 7 de dezembro em marco de resistência.
O movimento Mulheres Vivas integra o Levante Feminista Contra o Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio, articulação criada em 2021 que reúne mulheres negras, brancas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e diversos coletivos.
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