Você já parou pra pensar em como se enxerga? Se você se acha capaz, digno de amor e respeito? Isso tem tudo a ver com a autoestima — que é o jeito como a gente se vê por dentro. É sobre se aceitar, se valorizar e saber que, mesmo com erros e defeitos, a gente tem valor.
A psicologia estuda isso há muitos anos. Carl Jung, um dos grandes nomes da psicologia, dizia que a gente precisa se conhecer de verdade, por dentro, para viver em paz. E Aaron Beck, criador da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), também tem uma contribuição valiosa sobre autoestima. Ele acreditava que a nossa autoestima está intimamente ligada aos nossos pensamentos e crenças sobre nós mesmos. Vamos explorar isso?
O que é autoestima?
Autoestima é como um espelho interior. Não é só “se amar”, mas se respeitar, se conhecer e acreditar que você tem valor. É saber que não precisa ser perfeito pra ser digno.
O psicólogo Nathaniel Branden dizia que autoestima é quando a gente sente que dá conta da vida e que merece ser feliz. E Jung acrescentava: pra isso acontecer, a gente precisa olhar pra dentro e aceitar até aquelas partes da gente que preferimos esconder.
Aaron Beck, por sua vez, explicava que a autoestima é moldada por cognições (pensamentos) que temos sobre nós mesmos. Para ele, a maneira como nos avaliamos, baseada em nossas experiências passadas e nas crenças que formamos, é a chave para nossa autoestima. Se essas crenças forem negativas, tendemos a enxergar o mundo e nós mesmos de maneira pessimista, o que pode prejudicar a nossa autoestima.
O que são crenças no contexto psicológico?
No contexto da psicologia, a crença não tem a ver com a religião ou a fé em algo divino, mas sim com os pensamentos ou convicções que formamos sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre o mundo. Essas crenças podem ser positivas ou negativas e influenciam profundamente como nos sentimos e agimos.
Aaron Beck explica que muitas dessas crenças são formadas a partir das nossas experiências de vida e, muitas vezes, são inconscientes. Ou seja, nem sempre estamos cientes de que estamos pensando de forma negativa ou distorcida sobre nós mesmos. Por exemplo, se alguém cresce ouvindo que não é bom o suficiente, pode desenvolver a crença de que não é digno de amor ou não é capaz de realizar seus objetivos.
Essas crenças, chamadas de crenças centrais, afetam profundamente nossa autoestima. A boa notícia é que, segundo a psicologia cognitiva, é possível mudar essas crenças por meio de um processo de reavaliação e reestruturação cognitiva, que nos ajuda a pensar de forma mais realista e positiva sobre nós mesmos.
Como ter uma autoestima saudável?
A autoestima é construída com o tempo e envolve como pensamos sobre nós mesmos. Beck afirmava que nossos pensamentos são a base das nossas emoções e comportamentos. Ou seja, se mudarmos nossos pensamentos negativos sobre nós mesmos, podemos alterar nossa autoestima. Então, aqui estão algumas atitudes que fazem toda a diferença na construção de uma autoestima sólida, com base nas ideias de Beck:
- Desafiar pensamentos negativos
Beck dizia que muitas vezes temos uma voz interna que nos crítica e nos faz pensar de maneira negativa sobre nós mesmos. Essa voz pode dizer coisas como “Eu nunca sou bom o suficiente” ou “Eu sempre vou fracassar”. É fundamental desafiar esses pensamentos. Pergunte a si mesmo: “Isso é realmente verdade? Tenho evidências para isso?”
- Se conhecer de verdade
Quando a gente se conhece, fica mais fácil confiar em si mesmo. Saber o que te faz feliz, o que te machuca, o que você gosta e acredita é o começo de tudo. Tire um tempo para olhar para dentro. Escreva, converse, reze, reflita. Se pergunte: “O que eu tenho de bom? No que sou único?”
- Aceitar erros e imperfeições
Ninguém acerta sempre. Errar faz parte do caminho. Ter autoestima não é achar que é perfeito — é saber que, mesmo com falhas, você tem valor. Quando escorregar, diga: “Tudo bem. Aprendo e sigo em frente.” Beck falava muito sobre como a autocrítica excessiva pode sabotar nossa autoestima. Aceitar que somos imperfeitos é um passo importante para um amor próprio saudável.
- Viver de acordo com seus valores
Fazer o que você acredita e seguir sua verdade fortalece sua base interior. Não viva só pra agradar os outros. Ser fiel a quem você é, mesmo que nem todo mundo entenda, é um ato de amor próprio.
- Cuidar do corpo e da mente
Se cuidar é um jeito de dizer: “Eu mereço atenção.” Dormir bem, se alimentar com carinho, mover o corpo, descansar a mente — tudo isso alimenta a autoestima.
- Celebrar pequenas conquistas
Não espere grandes feitos pra se valorizar. Cada passo conta. Lavou a louça com alegria? Terminou algo que estava adiando? Ouviu alguém com paciência? Isso também é vitória. Reconheça e se elogie.
- Se cercar de gente que te valoriza
Gente boa puxa a gente pra cima. Gente tóxica suga a energia. Escolha estar perto de quem te faz bem, te respeita, te apoia — e seja também essa presença para os outros.
- Praticar a espiritualidade ou fé
Ter um momento de oração, reflexão ou conexão com Deus faz bem pra alma e fortalece o coração. Como dizia Jung, o ser humano tem sede de sentido. A fé, a oração, o silêncio interior ajudam a encontrar esse sentido.
- Pedir ajuda quando for preciso
Reconhecer que precisa de apoio é sinal de força, não de fraqueza. Conversar com alguém, buscar uma psicóloga ou entrar num grupo de apoio é um jeito de cuidar de si mesmo com coragem.
Essas atitudes não são receitas mágicas. São caminhos, pequenos passos que, juntos, ajudam você a construir uma autoestima mais forte, mais serena e verdadeira.
O que pode contribuir para uma baixa autoestima?
A baixa autoestima pode surgir de muitas fontes, e Aaron Beck explicava que as experiências passadas, especialmente quando relacionadas a críticas ou rejeição, moldam a forma como nos vemos.
Críticas constantes: quando só escutamos o que fazemos de errado, começamos a acreditar que não fazemos nada certo.
Falta de afeto e validação: crescer sem ouvir “você é importante pra mim” pode nos fazer sentir invisíveis.
Comparações: ser comparado o tempo todo com irmãos, colegas ou padrões inalcançáveis nos faz sentir menos.
Traumas e rejeição: humilhações, abandono ou violência deixam marcas profundas.
Perfeccionismo exagerado: exigir demais de si mesmo e nunca se permitir errar destrói a confiança interna.
Ausência do pai ou da mãe: quando uma criança cresce sem a presença afetiva ou física de seus pais, isso pode gerar sentimentos de abandono, desvalorização e insegurança. A falta de apoio emocional dos pais pode impedir que a criança desenvolva um senso sólido de valor pessoal.
Beck dizia que muitas dessas experiências são interpretadas de maneira cognitiva, ou seja, fazemos sentido do que acontece com a gente através de pensamentos que podem ser distorcidos. Por exemplo, se uma pessoa recebe muitas críticas e não aprende a reformular esses pensamentos, ela pode começar a acreditar que não tem valor.
Quem ajuda na nossa autoestima?
Pessoas que nos acolhem, nos escutam e nos valorizam são essenciais para nossa autoestima. Família, amigos, professores, vizinhos… O apoio social é fundamental. Porém, a psicologia de Beck nos alerta para o fato de que, às vezes, temos crenças tão arraigadas sobre nós mesmos, que nem a validação externa pode corrigir. O trabalho interno de reavaliar nossas crenças é fundamental.
As melhores fontes de autoestima
A autoestima mais forte vem de dentro. Não depende de beleza, dinheiro ou curtidas nas redes sociais. Vem de coisas como:
Fazer o bem aos outros: ajudar um vizinho, escutar um amigo, fazer um trabalho voluntário. A sensação de utilidade dá sentido à vida.
Ter um propósito: aquilo que faz seu coração bater mais forte. Pode ser ensinar, cozinhar, cuidar dos filhos, trabalhar com honestidade. Saber que você faz algo com sentido é fonte de força.
Ser verdadeiro com você mesmo: não viver de aparências. Falar o que pensa com respeito, ser coerente entre o que sente e o que faz.
Ter fé ou espiritualidade: rezar, meditar, ir à missa, participar de um grupo. Ter esse momento com Deus ou com o sagrado ajuda a se sentir mais inteiro, mais amparado.
Essas fontes são como poços de água limpa: você pode voltar a elas sempre que estiver seco por dentro.
Autoestima no relacionamento: como a baixa autoestima afeta o casal
Quando uma pessoa não se valoriza, isso aparece no namoro ou casamento. A pessoa pode ter muito ciúmes, querer controlar tudo ou sentir que nunca é boa o bastante. Beck, em sua abordagem cognitiva, acreditava que a percepção distorcida que temos de nós mesmos influencia diretamente as interações em nossos relacionamentos. Quem não se sente digno de amor pode acabar projetando suas inseguranças no parceiro, o que prejudica a relação.
Como a baixa autoestima se manifesta no casal:
- Medo constante de ser abandonado.
- Dificuldade em confiar no parceiro.
- Ciúmes excessivo ou necessidade constante de atenção.
- Submissão para evitar conflitos.
- Incapacidade de receber elogios ou acreditar que é amado.
Quando a autoestima é “alta demais”
Beck também alertava sobre o conceito de autoestima inflada, que é frequentemente um mecanismo de defesa contra inseguranças profundas. Pessoas que se exibem excessivamente ou que se colocam em um pedestal podem estar tentando proteger sua autoestima de sentimentos de inadequação. Isso pode ser um sinal de uma autoestima frágil, mascarada por uma fachada de superioridade.
Exercício simples: como os outros te enxergam?
Quer conhecer melhor como você é visto? Faça esse exercício:
- a) Pergunte a 3 pessoas de confiança: “Quais são minhas qualidades?”
- b) Ouça com atenção, sem rebater.
- c) Anote e reflita: você se enxerga assim também?
Muitas vezes, os outros veem em nós coisas boas que a gente nem percebe.
Autoestima na terceira idade
A terceira idade é uma fase da vida cheia de histórias e aprendizados. No entanto, muitas pessoas acreditam que, com o avanço da idade, começam a perder o valor ou a relevância na sociedade. A autoestima na terceira idade, muitas vezes, é afetada por essas crenças e pelas mudanças naturais que ocorrem com o corpo e a mente.
Jung, por exemplo, enxergava a velhice como uma fase rica para o desenvolvimento interior. Para ele, a maturidade era o momento de dar significado aos eventos da vida e de refletir sobre o legado pessoal. A sabedoria acumulada ao longo dos anos oferece uma perspectiva única, que pode ser muito valiosa não apenas para quem envelhece, mas também para a sociedade como um todo.
A baixa autoestima nessa fase pode vir de vários fatores, como:
Mudanças físicas e de saúde: A percepção de que o corpo não responde mais da mesma forma pode gerar insegurança.
Isolamento social: Às vezes, a falta de interação com amigos e familiares pode levar ao sentimento de solidão e perda de importância.
Estigmas da sociedade: Muitas vezes, a sociedade valoriza a juventude e a produtividade, fazendo com que os idosos sintam que não têm “utilidade” ou valor.
No entanto, a autoestima pode ser fortalecida e cultivada nessa fase da vida. Aceitar as mudanças, manter-se ativo e engajado, valorizar a experiência de vida e cuidar da saúde mental são passos importantes para uma vida plena e feliz.
A autoestima é construída como uma casa: com base firme, cuidado constante e apoio de quem caminha conosco. Não nasce pronta, mas pode ser cultivada todos os dias, em qualquer fase da vida. Reconhecer o próprio valor, aceitar suas imperfeições e fortalecer suas qualidades é um gesto de amor-próprio — e um caminho de libertação.
Lembre-se: você é mais forte do que imagina e merece se tratar com o mesmo respeito e carinho que oferece aos outros. Quando nos olhamos com mais compaixão, ganhamos coragem para viver com mais leveza e verdade.
Como dizia Carl Jung, “aquilo que negamos nos subjuga; o que aceitamos nos transforma.” Que este seja o tempo de se aceitar, se transformar e florescer.
Francisco Souza – Psicólogo – CRP 24/02932