O julgamento que apura a morte da menina Maria Cauane, de 11 anos, durante uma operação do BOPE em Rio Branco, está sendo acompanhado com atenção pela sociedade. No primeiro dia do júri, realizado na quarta-feira (4), apenas 14 das 42 testemunhas foram ouvidas. Nesta quinta-feira, segundo dia do julgamento, ainda restavam 28 depoimentos, incluindo o de uma figura chave: o delegado que inicialmente conduziu as investigações.
A operação, ocorrida em 14 de maio de 2018, tinha como objetivo prender um dos líderes de uma organização criminosa no Preventório, uma das comunidades mais carentes da cidade. Ao final da ação, três pessoas foram mortas, entre elas Maria Cauane, e dois moradores ficaram feridos.
A defesa dos militares concentrou esforços em apontar falhas no inquérito policial e na perícia das armas usadas na operação. Segundo o advogado Wellington Silva, a investigação foi conduzida de forma apressada e desorganizada, o que comprometeria a validade das provas.
“A perícia foi feita de uma forma extremamente esdrúxula, sem os cuidados científicos necessários. Retiraram o delegado do caso, algo inédito na história dele, e o Ministério Público assumiu as investigações de forma arbitrária. Isso resultou em um inquérito cheio de absurdos”, declarou Silva.
Os advogados alegam que não há provas contundentes de que os disparos que mataram Maria Cauane e os outros dois moradores tenham partido das armas dos policiais.
Já para a acusação, o cenário é claro: as provas demonstram que a operação foi marcada por abusos e violência desmedida por parte dos militares. Em um dos depoimentos, uma testemunha afirmou que recebeu drogas de policiais e foi coagida a declarar que os agentes estavam revidando ataques de criminosos.
O advogado Wallison Reis destacou que a investigação aponta para graves irregularidades na conduta policial.
“É um crime grave, com fortes indícios de tortura, armas plantadas e invasões de domicílio sem ordem judicial. Os moradores do Preventório estavam à mercê de ações que claramente violaram a lei”, afirmou Reis.
Entre as vítimas da operação está Edmilson Fernandes da Silva, que, segundo a denúncia do Ministério Público, foi retirado à força de sua casa e executado. Para os pais de Maria Cauane, José e Marlene, o julgamento é uma chance de obter justiça e evitar que tragédias semelhantes se repitam.
“Se eles não forem punidos como deveriam, outra família pode passar pelo que estamos passando. Não sabemos se será em um mês ou em um ano, mas pode acontecer de novo. Eles não têm nem remorso”, desabafou José, pai da menina.
O julgamento segue nos próximos dias, com a expectativa de ouvir todas as testemunhas e analisar as provas.
Com informações do repórter Adailson Oliveira para TV Gazeta