O Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que os acreanos levam em média menos de 30 minutos para chegar ao trabalho, colocando o Acre entre os estados com menor tempo de deslocamento diário no país. O levantamento também mostrou que o estado é o segundo do Brasil em uso de bicicletas como meio de transporte para o trabalho.
Apesar dos números positivos, a realidade nas ruas de Rio Branco é bem diferente. O aumento da frota de veículos, a falta de planejamento urbano e os problemas no transporte coletivo têm transformado o trânsito da capital em um desafio diário.
De acordo com o IBGE, 37% da população acreana utiliza automóvel próprio para se deslocar ao trabalho, enquanto 30% ainda vai a pé. Já o transporte público, segundo os moradores, não tem oferecido um serviço eficiente.
Reclamações sobre o transporte coletivo
A estudante Gisele Vieira, que utiliza o transporte público todos os dias para ir à faculdade, afirma que o tempo gasto no percurso é excessivo e muitas vezes ainda sofre com ônibus quebrados.
“É um pouco complicado, né? Porque eu morava em Recife antes e lá passava direto. Aqui é por hora, aí complica um pouco mais. Eu levo cerca de uma hora pra chegar na faculdade, e pra uma cidade pequena como Rio Branco é muito tempo. Sem contar que os ônibus ainda quebram. Já aconteceu perto da semana de prova, aí eu me doidei”, contou Gisele.
O professor Elias de Moraes compartilha do mesmo sentimento e relata que, por causa da distância e da irregularidade dos horários, precisa acordar de madrugada para chegar ao trabalho.
“A gente precisa estar às vezes sete horas no trabalho, oito horas e… tem que acordar às cinco e já ir pra parada. Não dá tempo de tomar café, não dá tempo de fazer quase nada. É só nas carreiras. Eu e minha esposa, a gente sofre”, desabafou.
Falta de planejamento
Segundo o urbanista entrevistado pela reportagem, embora o tempo médio de deslocamento no Acre ainda seja baixo, a tendência é de piora se a cidade continuar crescendo sem planejamento.
“Rio Branco ainda é uma cidade relativamente pequena, mas está crescendo sem planejamento. Temos muitas vias que comportam pequenos fluxos, então começam a ocorrer engarrafamentos pontuais. Além disso, bairros como Cidade do Povo, Santo Afonso e Universitário estão cada vez mais afastados, o que aumenta o tempo de deslocamento”, explicou.
Ele ainda destacou que o crescimento desordenado e os loteamentos irregulares dificultam o tráfego e impactam diretamente na mobilidade urbana.
“São poucas as áreas da cidade que são efetivamente planejadas, e isso compromete o deslocamento das pessoas, o fluxo dos veículos e interfere também no tempo gasto com transporte”, concluiu.
Apesar dos desafios, os dados do Censo mostram que o Acre tem potencial para avançar em mobilidade sustentável, especialmente com o aumento do uso de bicicletas. No entanto, especialistas reforçam que sem investimentos em transporte público e planejamento urbano, o tempo médio de deslocamento pode deixar de ser um ponto positivo e se tornar mais um reflexo da desigualdade e da má infraestrutura nas cidades acreanas.
Com informações de Marilson Maia, para a TV Gazeta.



