O que costuma aparecer são os gastos diretos: limpeza das ruas, retirada de lama, recuperação do asfalto e obras emergenciais. Esses custos são mensuráveis, entram no orçamento e rapidamente são divulgados. Mas eles representam apenas uma parte do problema.
O maior prejuízo é privado, difuso e silencioso. Está na perda de bens das famílias. Quando a água invade uma casa, ela destrói geladeira, fogão, cama, guarda-roupa, alimentos, material escolar e documentos. Bens duráveis adquiridos ao longo de anos de trabalho são perdidos em poucas horas. Essa perda de patrimônio raramente é registrada como custo econômico, embora afete diretamente o nível de bem-estar e a capacidade de consumo das famílias.
Há quem argumente que, após a enchente, o comércio “se aquece”, já que as pessoas precisam comprar tudo novamente. Do ponto de vista econômico, isso é um equívoco. A reposição do que foi perdido não gera ganho de renda nem aumento real de bem-estar. Trata-se apenas de consumo defensivo, uma tentativa de retornar ao ponto anterior ao choque. Não há progresso, há apenas recomposição forçada.
O efeito sobre a renda é imediato. Famílias passam a destinar quase todo o orçamento à reposição do básico, reduzindo gastos com educação, lazer, saúde e pequenos investimentos. Em muitos casos, recorrem a crédito de curto prazo, cartão ou empréstimos informais, ampliando o endividamento e comprometendo a renda futura. O choque climático se transforma, assim, em um choque financeiro prolongado.
Esse impacto não se restringe às famílias diretamente atingidas. A economia local também sente. O consumo se retrai, serviços são adiados, planos são cancelados. O dinheiro deixa de circular de forma diversificada e passa a se concentrar em gastos emergenciais. O resultado é uma economia mais travada, com menor dinamismo e maior vulnerabilidade.
No Acre, esse cenário é agravado por uma estrutura de renda frágil. O estado possui mais beneficiários do Bolsa Família do que trabalhadores formais, o que indica baixa capacidade de absorver choques inesperados. Para muitas famílias, o benefício cobre apenas o essencial do mês. Quando bens básicos são perdidos, não há poupança, seguro ou margem financeira para recuperação rápida.
Ignorar esse custo invisível é tratar o problema de forma incompleta. Enxurradas e alagações não são apenas fenômenos naturais. Elas evidenciam falhas persistentes de planejamento urbano, drenagem insuficiente, ocupação desordenada e ausência de políticas preventivas e de proteção social pós-desastre. São escolhas públicas que determinam quem paga a conta.
Eventos extremos podem variar em intensidade, mas seus efeitos econômicos são conhecidos e recorrentes. Enquanto o debate se limita a justificar a chuva e contabilizar máquinas nas ruas, o principal prejuízo segue fora das contas. A cidade limpa, o asfalto retorna, mas a perda de patrimônio, renda e bem-estar das famílias permanece.
Quando o poder público falha em reduzir riscos antes da água chegar, o custo não é apenas fiscal. É econômico, social e profundamente desigual.




