Candidatos aprovados no concurso público da Educação do Governo do Estado do Acre denunciam dificuldades, filas extensas e falta de organização no processo de inspeção médica, etapa obrigatória para a posse no cargo. O atendimento ocorre na Junta Médica do Estado, no prédio do Acre Previdência, em Rio Branco, e tem gerado apreensão entre os convocados, muitos deles vindos de municípios do interior.
De acordo com relatos recebidos pelo Agazeta.net, dezenas de professores chegam com até 24 horas de antecedência para tentar garantir uma das fichas de atendimento distribuídas diariamente. São apenas 60 fichas por dia de segunda a sexta-feira e 30 aos sábados, entregues por ordem de chegada. Com isso, muitos candidatos acabam dormindo no local, levando cadeiras, redes, barracas ou permanecendo dentro de veículos.
Há relatos de pessoas que chegaram às 7h, ainda na manhã de domingo (14), mesmo com a abertura da Junta Médica ocorrendo pontualmente às 7h da manhã desta segunda-feira (15), na tentativa de assegurar atendimento no dia seguinte.

O principal temor dos candidatos é não conseguir cumprir os prazos estabelecidos no edital, já que a inspeção médica é condição indispensável para a posse. Segundo o cronograma oficial, o prazo para entrega dos exames médicos na Junta Médica vai até o dia 18 de dezembro, enquanto a documentação deve ser entregue na Secretaria de Educação (SEE) até 19 de dezembro. A posse está prevista até 5 de janeiro.
Convocação e exames divulgados em etapas
Em carta aberta, candidatos relatam que a primeira convocação foi publicada no dia 5 de dezembro, mas a lista completa de exames exigidos só foi divulgada na segunda-feira, dia 8, sendo complementada apenas na tarde de terça-feira, dia 9, com a inclusão de exames considerados essenciais, como hemograma completo e glicemia em jejum.
Segundo os professores, essa divulgação fragmentada dificultou o planejamento, especialmente para quem mora fora da capital e precisou arcar com custos de deslocamento, hospedagem e exames laboratoriais.

“Estamos de vigília”, dizem professores
Em entrevista ao Agazeta.net, um dos professores que acompanha a situação descreveu o cenário vivido pelos aprovados.
“Dezenas de professores estão de vigília em frente ao prédio do Acre Previdência aguardando receber uma das 60 fichas de atendimento para passar pela inspeção médica. A situação tem se repetido por dias.”
Ele explica que muitos chegam durante a madrugada ou até no dia anterior.
“Há pessoas que chegam às 23h, 18h, 10h e até às 7h da manhã do dia anterior. Muitos vêm do interior, de municípios como Quinari e Tarauacá.”
A situação tem gerado sentimento de indignação entre os convocados.
“Sentimo-nos profundamente desrespeitados. O discurso é de valorização da educação, mas a realidade é professor dormindo na rua para conseguir o mínimo. O concurso foi conturbado desde o início.”
Segundo os relatos, há pessoas dormindo em barracas, redes, cadeiras, carros, na calçada e até na grama em frente ao prédio.

Interior enfrenta ainda mais dificuldades
Raquel Albuquerque, conhecida como Menina das Vagas, acompanhou o movimento no local e entrevistou candidatos vindos do interior do estado.
Um dos relatos é de um familiar de uma professora de Brasiléia, que preferiu não se identificar.
“Saímos de Brasiléia às 11h da noite e chegamos aqui às 2h40. Já gastamos cerca de dois mil reais entre exames e deslocamentos. É o terceiro dia tentando. Se não entregar essa documentação, ela perde a vaga.”
Outro candidato, Ronei, aprovado para o cargo de professor de Ciências Biológicas em Epitaciolândia, também relatou dificuldades.
“No Alto Acre não tem Junta Médica e nem todos os exames são feitos lá. Tivemos que vir para Rio Branco. Gastei quase R$ 1,5 mil em exames, mais passagens, hospedagem. Se der algo errado, temos que voltar tudo de novo. É tudo muito imprevisível.”
Segundo os professores, não há garantia de atendimento para quem não consegue ficha em um dia.
“Quem não consegue atendimento hoje não tem certeza se será atendido amanhã. Provavelmente vai ter que enfrentar outra madrugada”, relata um dos candidatos.
Eles defendem alternativas como agendamento online, mutirões, ampliação do horário de atendimento ou criação de polos regionais, especialmente para atender candidatos do interior.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Educação informou que a Junta Médica é gerida pela Sesacre, enquanto eventuais dilações de prazo dependem da Sead, e que uma nota oficial está sendo elaborada.
“A junta médica é gerida pela Sesacre, e a dilação de prazo pela Sead. Estamos concentrando as informações.”
O Agazeta.net também entrou em contato com a Secretaria de Administração (Sead) e a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), mas até o fechamento desta reportagem não houve resposta oficial. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
Produção: Gisele Almeida
Com informações adicionais de Raquel Albuquerque, a Menina das Vagas.



