O GPS pode até registrar cerca de 4 mil quilômetros de distância entre o Acre e a Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, mas o amor dos fãs acreanos por Lady Gaga não cabe em cálculo nenhum. Neste sábado (3), a Mother Monster pisa no palco brasileiro para um show gratuito, com transmissão ao vivo em rede nacional. E lá estarão eles: fãs que venderam computador, perderam noites de sono e até vão levar bandeira do Acre para tentar aparecer na TV. Porque quando se trata de Lady Gaga, não existe limite geográfico — só amor, glitter e coragem.
A caminho do palco montado nas areias cariocas estão Gabriel Ttutize, Márcia Moreira e Hernan Castro, três fãs acreanos que compartilham o mesmo amor por uma das artistas mais icônicas do planeta. Unidos pela voz potente, pelos figurinos irreverentes e pela luta da cantora por inclusão e diversidade, o trio mostra que ser Little Monster é quase um ato de fé — e com certeza, de resistência.

“Nem que eu vendesse tudo”
Quando Gabriel Ttutize fala da Gaga, ele sorri com os olhos. A relação começou em 2009, ainda na infância, quando ouvia “Poker Face” e “Paparazzi” no “celularzinho de tijolão” da vizinha. Mas foi em 2013, com o primeiro celular em mãos, que tudo se intensificou. “Ali eu virei fã de verdade. Comecei a acompanhar tudo, seguir cada passo que ela dava”, conta.
Crescendo como “criança viada”, ele encontrou na diva pop uma identificação que nenhuma outra artista havia proporcionado. “Sempre admirei o feminino, essa coisa colorida, performática… e a Gaga trazia tudo isso com força. Ela me representa.”

Gabriel é direto ao dizer o que mais admira nela: sua coragem de usar o espaço que tem para defender causas LGBTQIAPN+. “Ela é uma artista que se posiciona. No último Grammy, por exemplo, ela usou o tempo do discurso para falar da população trans. Isso é gigante.”
A viagem até o Rio não foi fácil. Planejou, economizou, pediu ajuda da família e até considerou vender tudo. “Mas a certeza era uma só: eu ia.” Cheio de ansiedade, ele planeja o look com camiseta da Gaga, pulseiras, faixa e — claro — uma bandeira do Acre. “Vai que a câmera foca, né?

A estagiária que vendeu o computador
Márcia Moreira tem história com a Gaga de longas datas. Desde que viu o clipe de Poker Face, em 2008, ela percebeu que algo diferente estava surgindo no mundo da música pop. “Era tudo disruptivo: roupas, performances, posicionamento. Ela fazia a gente se sentir parte de algo.”

Em 2012, vendeu o computador para ver a diva de perto. Em 2017, teve o coração partido com o cancelamento no Rock in Rio. Agora, em 2025, está pronta para curtir o show com tênis, boné e um lugarzinho na areia — mas o coração continua tão adolescente quanto naquela fila da “Monster Pit”.
“Confesso que tentei não pensar muito pra não ficar ansiosa demais”, diz. Mas depois da apresentação surpresa de Gaga no Coachella, Márcia jogou a racionalidade pro alto. “Estou contando os minutos.” E entre os desejos do setlist, ela quer ouvir Born This Way, Vanish into You e qualquer canção que faça o coração vibrar como em 2009.

O que vai realizar dois sonhos de uma vez
Hernan Castro tem dois sonhos: conhecer o mar e ver Lady Gaga ao vivo. No sábado, realiza os dois de uma vez. Desde 2008, quando descobriu Poker Face via Bluetooth nos corredores do Colégio Acreano, ele nunca mais soltou a mão da cantora. “Cada vídeo novo era o assunto da semana. Eu me trancava no quarto pra ouvir os CDs. Ainda não tinha streaming, era tudo no 4shared e fé.”

Criado em meio a rádios — com mãe e avó trabalhando na Rádio Difusora — Hernan cresceu entre discos, fitas e microfones. “Sempre amei Madonna, Britney, ABBA… Mas a Gaga chegou e me deu coragem de ser estranho também. De me expressar.”
Sua paixão sobreviveu a todas as fases da cantora, inclusive ao criticado álbum “ARTPOP”, que ele ama. E quando soube do show, pediu folga no trabalho, contou com ajuda da tia Elys e até recebeu apoio do chefe. “Disse pra ele: quero realizar dois sonhos de uma vez — ver o mar e ver a Gaga. Ele topou na hora. Me senti abençoado.”

Mais que um show: um manifesto de amor
Gabriel, Márcia e Hernan não estão apenas indo a um show. Eles estão ocupando espaço. Vêm de um estado frequentemente esquecido nos grandes mapas dos eventos internacionais — e fazem questão de mostrar que o Acre pulsa arte, identidade e representatividade.
Na areia de Copacabana, ao lado de tantos outros Little Monsters que cruzaram o Brasil, eles serão mais que espectadores. Serão símbolos da potência dos fãs brasileiros e da força de um amor que ignora distâncias, passagens caras, noites sem dormir ou calor carioca. No sábado, o país inteiro vai assistir. Mas a gente já sabe: os acreanos não vão passar despercebidos.