O primeiro trimestre de 2024 no Acre foi marcado por uma onda de violência, especialmente no Segundo Distrito da capital. Dos 42 homicídios registrados, 29 ocorreram em Rio Branco, sendo 20 nesta região. Entre as vítimas está Thiago Oseas Tavares da Silva, um jogador de futebol de apenas 18 anos que veio de Pernambuco em busca de uma oportunidade profissional em um clube do Acre. No último final de semana, ele foi confundido com um membro de uma facção rival e foi brutalmente assassinado a tiros durante uma festa.
A morte de Thiago ainda não está registrada no anuário de violência elaborado pelo Ministério Público do Acre (MPAC), que monitora as mortes violentas no estado. No entanto, os dados indicam um possível aumento da violência em 2024 em comparação com anos anteriores, especialmente devido à guerra entre organizações criminosas. No primeiro bimestre deste ano, o estado apresentou um aumento de 20% no número de mortes violentas em relação a 2023, com a maioria dos casos concentrada na capital.
De acordo com o comandante da Segunda Regional da Polícia Militar do Acre (PMAC), Felipe Russo, bairros como Belo Jardim, Taquari, Santa Inês e Cidade do Povo são apontados como as áreas mais perigosas da cidade, onde a violência tem se intensificado. A dificuldade de acesso policial devido à geografia, presença de áreas de mata e regiões rurais favorecem as atividades das organizações e contribuem para a escalada da violência.
“Você tem regiões de mata atrás das residências, são locais de rotas de fuga por onde os criminosos passam. Eles buscam essas regiões próximas ali onde está o Belo Jardim, uma região com característica rural de difícil acesso, as estradas com regiões de mata também são áreas que eles buscam. As facções estão disputando esses territórios, por isso aumento no número de homicídios”, explica Russo.
A disputa acirrada entre facções pelos territórios desses bairros tem resultado em execuções de membros rivais, muitas vezes envolvendo vítimas inocentes. As regiões de mata e as áreas de difícil acesso servem como rotas de fuga para os criminosos, dificultando o trabalho das autoridades. A polícia tem intensificado as ações de investigação e patrulhamento nas áreas mais violentas da capital para tentar conter o aumento alarmante no número de homicídios, que tem assolado a população acreana no início deste ano.
No decorrer deste ano, as autoridades do Acre realizaram a apreensão de 97 armas de fogo e quase mil munições, material que estaria destinado a ser utilizado em ataques contra facções rivais ou em assaltos. Além disso, foram efetuadas 212 prisões, porém, quando se trata de organizações criminosas, a sensação é de uma guerra sem fim. A colaboração da comunidade, por meio de denúncias, pode ser a maior arma para reduzir a crescente violência na região. Apesar do medo que ainda persiste, a população tem começado a contribuir, o que é um sinal positivo.
O comandante esclarece que, em casos como o dos jovens envolvidos em crimes, a rapidez das ações policiais é fundamental. Na ação específica de Oseas, a comunidade colaborou com fornecimento de informações que permitiram uma resposta rápida da Polícia Militar do Acre (PMAC), o que resultou na identificação e prisão de todos os envolvidos. No entanto, em relação aos crimes violentos ocorridos no início deste ano, 69% deles têm autoria desconhecida, o que evidencia a complexidade da situação.
“Exatamente, nós contamos nessa situação específica com o apoio da comunidade. Houve denúncia, a população está confiando na Polícia Militar, mais ainda, está passando informações e nós, de forma muito rápida, demos a resposta que a sociedade esperava de nós. Todos os envolvidos foram identificados e presos”, conclui.
No caso do assassinato do jogador de futebol, a polícia conseguiu prender oito envolvidos no crime. Contudo, muitas execuções continuam sem respostas, sendo que 60% desses crimes são cometidos com armas de fogo, o que demonstra o poder bélico das organizações criminosas. De acordo com o anuário de violência do Ministério Público do Acre (MPAC), as vítimas dos conflitos por território somam 31 mortes nos dois primeiros meses deste ano, sendo 95% homens e 5% mulheres.
Matéria em vídeo produzida pelo repórter Adailson Oliveira para a TV Gazeta