A caminhada de cinco quilômetros é rotina para Teinit Rodrigues, Raíssa Braga e Raivson. O trajeto até a Escola Encanto da Floresta, no Ramal Caipora, região da Transacreana, é duro, especialmente na volta para casa, quando o sol do meio-dia e a poeira da estrada castigam.
“De manhã é melhor de andar, mas quando volta é esse sol aqui, meio dia”, conta Teinit.
A escola, localizada dentro da Reserva Chico Mendes, é mantida por um único professor que ministra aulas do 1º ao 4º ano do ensino fundamental para apenas oito alunos. Para quem conclui essa etapa, não há opções de continuidade na própria comunidade.
É o caso de Thailine Teixeira, 13 anos, que está há dois anos sem estudar por falta de escola de ensino médio.
“Quero [voltar], se der eu quero. Agora, ir para a cidade sozinha é difícil, né? Eu parei no sexto”, relata.
A irmã, Thainá, 19 anos, ficou quatro anos fora da escola e agora tenta recuperar o tempo perdido no EJA (Educação de Jovens e Adultos). Ela vai periodicamente a Rio Branco buscar tarefas e retorna para a comunidade.
“Vou terminar o ensino fundamental para tentar chegar no médio e, quem sabe, fazer uma faculdade. Minha idade já está bem avançada”, diz.

Entre o direito à educação e a distância de casa
Na localidade, várias famílias vivem dilemas semelhantes. O agricultor Raimundo Castro enviou a filha de 14 anos para morar com a avó em Rio Branco e estudar.
“É angustiante viver longe dos filhos. Graças a Deus ela tem a avó, mas nunca é como estar com os pais. A gente fica na indecisão, no medo do que pode acontecer”, desabafa.
Uma possível solução está mais próxima do que parece: a Escola Nova Esperança, no Moreno Maia, a 25 km do núcleo onde vivem os alunos do Ramal Caipora. Para que estudassem lá, bastaria a Secretaria de Educação incluir transporte escolar na rota. Na data da reportagem, quatro caminhonetes adaptadas chegaram à comunidade — mas nenhuma destinada ao Caipora.
Estrutura precária e energia que nunca chegou
A Encanto da Floresta enfrenta problemas estruturais. Embora a escola tenha sido construída com fiação, tomadas e lâmpadas, não há rede elétrica. O ICMBio autorizou a instalação, mas, segundo moradores, a Energisa nunca levou os postes.
O professor Júlio mantém a esperança.
“Pensei que esse ano vinha. Moradores correram atrás, mas a Energisa disse que só em novembro. E nessa época já começa o inverno e caminhão pesado não passa.”
Outro desafio é a água. Um motor a gasolina puxa a água de uma nascente a 200 metros da escola, mas a qualidade é duvidosa devido à presença de algas e impurezas. Um filtro improvisado ajuda, mas não resolve totalmente.
“Não é muito boa, mas é o que supre a necessidade”, admite o professor.

Secretaria de Educação alega conflitos fundiários
O secretário de Educação, Aberson Carvalho, afirma que a situação é agravada por conflitos de terra na região.
“Existe litígio, embargo e disputas entre fazendeiros e ocupantes tradicionais. É uma área próxima de Rio Branco, mas ainda marcada por conflitos. Levamos reforma para atender o 1º ao 5º ano, mas para o ensino médio a complexidade é maior. Professores habilitados não querem trabalhar lá, e a escola mais próxima fica a 25 km.”
Segundo ele, para viabilizar transporte escolar, é preciso que os alunos se matriculem na escola de referência mais próxima.
“Sem matrícula, não há como saber da necessidade. A logística é possível, mas depende dessa informação. No inverno, a Encanto da Floresta fecha porque a área fica isolada.”
Enquanto pais e alunos aguardam soluções, a comunidade segue resistindo com a esperança de que o direito constitucional à educação se torne realidade também no Ramal Caipora.
Com informações do repórter Adailson Oliveira para TV Gazeta e editada pelo site Agazeta.net



