A dona de casa Grazy Oliveira, mãe de três filhos, enfrenta uma batalha diária para garantir o tratamento da filha mais velha, de 14 anos, que sofre com transtornos mentais. No início, a família buscou atendimento particular, mas os custos se tornaram insustentáveis. A alternativa foi recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). No entanto, a esperança se transformou em frustração com a interrupção do serviço.
“No CAPS eu fui lá e procurei o atendimento, que seria o retorno dela para o psiquiatra, e ele me informou que estava sem psiquiatra. Então no caso eu fui atrás do outro CAPS, que era do Manoel Julião, e eu não sabia que era só para usuário de droga. Também me informaram que ia ter na Sobral, mas ainda está em construção. Então, no caso, ela vai ficar sem psiquiatra do mesmo jeito”, relatou Grazy.
A ausência de médicos especialistas fez com que o CAPS encontrasse como solução apenas a renovação das receitas médicas. O problema é que o acompanhamento contínuo é indispensável, já que a adolescente sofre com efeitos colaterais da medicação e, sem ajustes adequados, o quadro se agrava.
“Tem dias que ela está com muito medo, que ela tem síndrome do pânico. Ela fica muito agressiva, quebra coisas dentro de casa, vem para cima da gente, e a gente precisa controlar para que não se mutile. Já veio várias vezes bombeiro e Samu, porque ela tentou suicídio também”, contou a mãe.
A gravidade da situação levou os pais a deixarem seus empregos para se dedicar integralmente à filha. Grazy chegou a acionar o Conselho Tutelar e encaminhou uma carta ao Ministério Público pedindo ajuda. Além da sobrecarga emocional, a família enfrenta dificuldades financeiras.
“Eu vou de Uber sem trabalho, porque não tenho carro. Preciso de alguém em casa com ela, porque não posso sair e deixá-la sozinha”, desabafou.
O principal entrave é a escassez de psiquiatras em Rio Branco. Os profissionais que atuavam nos CAPS foram cedidos pelo Estado, mas os contratos provisórios chegaram ao fim. O secretário municipal de Saúde, Renan Biths, afirmou que a gestão busca alternativas para ampliar o atendimento.
“Estamos no esforço de habilitar o CAPS Samaúma de porte 2 para porte 3. Isso representa capacidade de atendimento de 24 horas para a população e a inclusão de serviços que hoje não temos, especialmente o atendimento psiquiátrico”, disse o secretário.
Outra promessa é a construção do CAPSi, voltado exclusivamente para o público infantil, que contará com uma nova equipe contratada. “Vai ser uma equipe nova, totalmente reestruturada para atender a demanda de saúde mental das nossas crianças, em diálogo com o Conselho Tutelar e demais órgãos de proteção”, completou Biths.
Enquanto as medidas não saem do papel, famílias como a de Grazy seguem à espera de atendimento especializado. O CAPS Samaúma continua sem um quadro estável de psiquiatras e a população mais vulnerável permanece sem o suporte.
Com informações do repórter João Cardoso para TV Gazeta e editada pelo site Agazeta.net