Para as mulheres, a saída do Haiti é ainda mais complicada
Desde 2010, mais de vinte mil imigrantes entraram no Brasil através do Acre. A maioria é formada por haitianos. O país caribenho foi devastado por um terremoto que destruiu a capital, Porto Príncipe.
O Haiti é a nação mais pobre das Américas. A expectativa de reconstrução é incerta. Por causa disso, eles viram em solo brasileiro a oportunidade de uma nova vida. Para chegar até aqui, muitos enfrentam as dificuldades durante a viagem.
A rota mais utilizada é agenciada por coiotes, que são pessoas que cobram altos valores para facilitar o trajeto até o destino final. O preço médio por pessoa não fica menos que três mil dólares.
Para as mulheres, essa saída do Haiti é ainda mais complicada. Principalmente aquelas que são mães. Ir em busca de algo melhor requer sacrifícios. Deixar os filhos para trás é o mais complicado entre todos.
A saudade deixa o peito de Marlene Bruno ainda mais apertado. Depois que ela perdeu o marido para o grande terremoto, levar a vida e cuidar dos dois filhos não está sendo nada fácil. Há quase um mês, a mulher aguarda seguir viagem até São Paulo.
Sem dinheiro, ela não tem nenhuma notícia dos filhos que estão a milhares de quilômetros de distância. “Tem dia que eu nem como. Fico triste só em pensar neles”, diz.
Ela ainda revela: “Se fosse por mim, amanhã eles estariam aqui comigo.” Marlene tem um casal. O mais novo tem quatro anos de idade e mais velha, dez anos. “Vou fazer de tudo para trazer meus filhos”, afirma a mãe que não mais planos de voltar ao país de origem.
Quem vive a mesma situação é Resilia Dormeis. Mãe de quatro filhos, depois que foi embora, a mulher ainda não entrou em contato com a família. “Isso é muito triste para mim”, conta.
A única lembrança é a foto da filha Guylande. “Quando olho, não tem jeito. Fico triste. Queria eles perto de mim”, argumenta a haitiana de 35 anos de idade. A esperança é o combustível que move as mães haitianas.
Mesmo em terras estrangeiras, o que elas desejam é a chance de conquistar trabalho e recomeçar a vida. Mesmo com o futuro incerto pela frente. E sonhar por dias melhores, principalmente para os filhos, faz parte do extinto dessas mulheres que negam a si mesma para fazer o melhor a quem elas mais amam na vida. Um amor sem explicação e que só elas conseguem sentir.