Três dias após registrar boletim de ocorrência em que acusa o líder indígena Isaka Ruy de estupro durante uma vivência espiritual na Aldeia Me Nia Ibu, do povo Huni Kuî, no município de Feijó (AC), a turista chilena Loreto Belen Manzo publicou vídeos em suas redes sociais relatando os impactos do que viveu e o sentimento de abandono.
Em um dos relatos a chilena afirma que sentiu falta de apoio das pessoas da aldeia: “Foi demais. Na verdade, acho que ultrapassei todos os meus limites — ou melhor, não coloquei limites. E por isso essas coisas aconteceram”, disse em um dos trechos. “Me senti muito vulnerável, muito sozinha… Não senti apoio das pessoas da aldeia. Sim, me deram comida, me levaram à cidade quando precisei, mas além disso, não. Dentro da aldeia, todos são da mesma família. E eu entendo que eles acabam protegendo uns aos outros.”

Loreto havia viajado ao Acre para uma imersão cultural, adquirindo um pacote de cerca de R$ 5,5 mil para passar várias semanas no local. Chegou à aldeia no dia 15 de maio. Quatro dias depois, segundo ela, começou a viver situações que logo se tornaram um pesadelo.
De acordo com o relato prestado à Polícia Civil de Feijó, a jovem foi vítima de uma série de violências por parte de Isaka Ruy. Ela contou que, durante um banho medicinal, o indígena teria inserido as mãos em seus genitais — ato que ela gravou em vídeo. Dias depois, ele ainda teria tentado beijá-la à força. “Fiquei confusa. Tomei medicina naquela noite e a medicina me mostrou as verdadeiras intenções dele”, afirmou.
Ainda conforme a vítima, após relatar o abuso à esposa, mãe e pai do indígena, eles se desculparam e pediram que o vídeo fosse apagado. Ela deletou o arquivo, mas havia enviado uma cópia de segurança a outra pessoa. A jovem continuou participando da experiência sem custos, hospedando-se na casa do irmão de Isaka. No entanto, dias depois, o líder indígena a teria levado até uma árvore no meio da selva, onde voltou a assediá-la.

“Ele começou a dizer que queria que eu fosse sua parceira, que sentia amor, que queria tudo comigo. Eu disse que éramos como irmãos. Então ele se jogou em mim, me beijando e me apalpando até me estuprar”, relatou Loreto. Ela afirma que, logo depois, a esposa do acusado apareceu e a agrediu com um pedaço de pau.
Loreto fugiu e, segundo conta, teve seu celular roubado pela mãe de Isaka, supostamente para ocultar provas dos abusos. Dias depois, voltou a conseguir acesso ao telefone, procurou a delegacia em 23 de junho e retornou ao Chile.

Mandado de prisão e investigação
O delegado Dione dos Anjos Lucas, responsável pelo caso, informou que a jovem foi ouvida, submetida a exames médicos no hospital do município e apresentou provas, incluindo vídeos e registros de pagamento. Diante da gravidade dos indícios, a Polícia Civil representou pela prisão preventiva de Isaka Ruy, com mandado já expedido pela Justiça. No entanto, antes que a prisão fosse cumprida, o suspeito deixou o local. A polícia continua mobilizada para localizá-lo.
“Este caminho é de cura, não de violência”
Em um dos vídeos publicados nas redes sociais, Loreto agradece as mensagens de solidariedade — especialmente de brasileiros. “Muitos irmãos de diversas aldeias me escreveram. Isso mostra que existe um verdadeiro cuidado com esse caminho espiritual, que deveria ser de cura — e não de violência.”
Ela diz que seguirá atuando no campo das medicinas tradicionais, mas alerta: “É muito importante saber onde fazer as coisas, ter mais informação e cuidado. Estamos sempre expostos na vida, mas dessa vez foi longe da minha zona de conforto, da minha cidade, do meu país. Espero que essas pessoas reconheçam os abusos que cometeram e que não voltem a trabalhar com outras pessoas até que se curem, de verdade.”

Canais de ajuda:
– Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítima (DECAV)
• Especializada no atendimento de casos de violência contra menores.
• Endereço: Rua Hugo Carneiro, nº 301 – Centro (próximo à Gameleira), Rio Branco – AC.
• Telefones: (68) 3224-1158 / (68) 99921-1233 (WhatsApp para denúncias).
• Horário: Segunda a sexta, das 8h às 18h.
– Disque 100 (Disque Direitos Humanos)
• Atendimento nacional e anônimo, 24 horas por dia, inclusive finais de semana e feriados.
• Aceita denúncias de qualquer violação de direitos humanos, com foco em crianças e adolescentes.
– Polícia Civil do Acre – Delegacias nos municípios do interior
• Cada cidade do interior conta com uma unidade da Polícia Civil onde as denúncias podem ser registradas.
• Telefone: +55 (68) 3224-2485
– Conselho Tutelar
• Atua na proteção imediata da criança e adolescente em risco.
• Pode ser acionado diretamente ou por meio da Polícia.
• Em Rio Branco, os conselhos tutelares são divididos por regionais. Exemplo:
• Regional Calafate: (68) 99951-8914
• Regional Estação Experimental: (68) 99951-9680
– Aplicativo Proteja Brasil (gratuito)
• Desenvolvido pelo Unicef e Ministério dos Direitos Humanos.
• Permite localizar o posto de denúncia mais próximo, com endereços e contatos.
• Disponível para Android e iOS.
– Ministério Público do Estado do Acre (MPAC)
• Recebe denúncias online e presencialmente.
• Canal digital: https://www.mpac.mp.br/ouvidoria
• Central Gratuita de Atendimento da Ouvidoria: 0800 970 2078 E-mail: ouvidoriageral@mpac.mp.br
Denuncie!