Há cerca de um mês, Donald Trump anunciou a aplicação de uma tarifa de cinquenta por cento sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. O impacto inicial foi grande, gerando alertas sobre as possíveis consequências para a economia brasileira.
No entanto, em um recuo que pode ser considerado histórico, o governo americano revisou essa postura. A lista oficial de isenções revela que quase metade das exportações brasileiras está agora livre da tarifa.
Esse movimento vai além de uma simples alteração técnica e reflete um receio real dos Estados Unidos em relação à inflação. O episódio expõe as tensões internas e a preocupação com o custo de vida no país, fatores que foram decisivos para a eleição de Trump, que capitalizou o descontentamento popular contra o governo Biden e a então vice Kamala Harris.
Diante dessa fragilidade econômica e política, o governo americano não pode se dar ao luxo de aumentar os preços de produtos que não são produzidos internamente sob o risco de agravar a inflação e comprometer seus índices de aprovação.
A preocupação dos Estados Unidos é clara. Uma tarifa alta e abrangente poderia elevar o custo de diversos produtos essenciais, que não são fabricados localmente. Isso pressionaria a inflação, algo que o governo Trump deseja evitar a todo custo, especialmente num cenário político já delicado.
Analistas destacam que, apesar do discurso político ter permanecido duro, o recuo comercial demonstra que, na prática, os Estados Unidos buscam minimizar o impacto econômico da medida protegendo setores sensíveis do mercado interno.
É um sinal claro de que o protecionismo tem limites e que a necessidade pragmática de controlar a inflação pode frear ações de conflito comercial.
Foi justamente esse temor que motivou a concessão de isenções para produtos estratégicos, como o suco de laranja, muito presente nas refeições dos norte-americanos, que ficou livre da tarifa.
Outro ponto a favor do Brasil é a diversificação da sua cadeia produtiva. Diferentemente de economias mais simples, o Brasil produz uma ampla variedade de bens e insumos ao longo de toda a cadeia, o que ajuda a diluir e reduzir o impacto de tarifas isoladas.
Essa estrutura produtiva mais robusta funciona como um escudo natural contra choques externos.
Esses fatores combinados indicam que, apesar do tom inicial mais duro, o impacto da tarifa sobre o PIB brasileiro deverá ser muito limitado. Estimativas apontam para uma redução em torno de 0,13 por cento. Ou seja, o chamado tarifaço acabou se transformando numa tarifa seletiva com muitas exceções.
Para o Brasil, esse episódio reforça a necessidade de continuar investindo na diversificação dos mercados e no fortalecimento das cadeias produtivas internas. A alta demanda global por produtos como o café mostra que há espaço para crescimento mesmo diante de barreiras comerciais.
Essa situação traz uma lição importante: o comércio internacional é, acima de tudo, um jogo político, econômico e estratégico, onde o barulho inicial nem sempre se traduz em efeitos concretos. O recuo de Trump evidencia que as pressões internas nos Estados Unidos, especialmente a luta contra a inflação, podem pesar mais do que o discurso protecionista.




