Você provavelmente já ouviu falar que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu. As notícias sempre destacam esse aumento como uma boa notícia para todos, mas a grande questão é: esse crescimento realmente beneficia todos os brasileiros, especialmente os mais pobres? A resposta, infelizmente, é não. O aumento do PIB nem sempre reflete uma melhoria no padrão de vida das classes mais baixas. Para muitas pessoas, esse “bolo” de crescimento simplesmente não chega.
A frase “É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”, atribuída ao ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, ficou famosa durante o regime militar e ainda ressoa nas discussões sobre economia. Embora o crescimento seja importante, não podemos confundi-lo com desenvolvimento. O crescimento é uma medida da quantidade de bens e serviços produzidos, como o PIB, mas o desenvolvimento vai além disso. Ele ocorre quando o crescimento econômico resulta em uma melhoria real na qualidade de vida da população, o que envolve áreas fundamentais como educação, saúde, saneamento básico e infraestrutura. Na prática, desenvolvimento é ter acesso à creche para seu filho, ao médico no posto de saúde, a uma casa com rede de esgoto, a uma rua limpa e asfaltada.
Nos últimos anos, o consumo das famílias tem sido um dos principais motores do crescimento do PIB. Contudo, esse aumento no consumo também serve para “maquiar” o crescimento do PIB. Muitas famílias, endividadas, gastam grande parte de sua renda com alimentos e serviços essenciais, sem conseguir poupar ou investir em melhorias para o futuro. Esse fenômeno, impulsionado pelo consumo, não reflete uma melhoria real nas condições de vida da população.
Quando falamos em PIB, estamos nos referindo ao valor total de todos os bens e serviços produzidos no país. O que poucos sabem é que esse crescimento é uma média que não representa a realidade de quem vive em situação de vulnerabilidade. O crescimento econômico muitas vezes é impulsionado por setores que beneficiam as classes mais altas ou o capital estrangeiro, enquanto as condições de vida da população mais pobre permanecem estagnadas ou até pioram.
Em 2024, o PIB do Brasil cresceu 3,4%, impulsionado por diversos setores da economia, mas esse número não representa uma melhoria efetiva para todos os brasileiros, especialmente os mais pobres. Grandes empresas e investidores podem ver lucros aumentarem, mas isso não resulta em salários melhores ou maior acesso a serviços públicos de qualidade. No setor agrícola, que foi um dos maiores responsáveis pelo crescimento do PIB nos anos anteriores (com exceção de 2024, que teve perdas devido a catástrofes climáticas), as grandes corporações muitas vezes não distribuem adequadamente os lucros entre os trabalhadores rurais, que continuam a enfrentar jornadas exaustivas e salários baixos. Além disso, o crescimento do PIB pode estar relacionado a investimentos em setores como tecnologia ou commodities, que não geram empregos diretos para os mais pobres.
Enquanto o PIB cresce, o salário-mínimo não acompanha essa evolução, e a desigualdade social persiste. A realidade de muitos brasileiros é marcada pela falta de estabilidade no emprego, com uma grande parte da população trabalhando de forma informal, sem acesso a benefícios e direitos trabalhistas. Além disso, programas como o Bolsa Família, embora importantes, não são suficientes para garantir uma qualidade de vida digna, já que o custo de vida continua a aumentar. Isso se reflete em áreas como saúde e educação, que ainda apresentam grandes desigualdades no acesso e na qualidade.
O grande problema é que o crescimento do PIB muitas vezes reflete setores que não são inclusivos e não oferecem oportunidades para todos. Isso significa que, enquanto os números da economia podem parecer positivos, a realidade para o brasileiro de classe baixa continua a mesma. O crescimento econômico não chega até essas pessoas de forma tangível, e as melhorias que deveriam ser visíveis no cotidiano, como o acesso a serviços públicos de qualidade, ainda são escassas. Além disso, um modelo de crescimento baseado na exploração de recursos naturais e altamente intensivo em combustíveis fósseis, embora insistido por alguns setores, precisa ser repensado. Esse tipo de crescimento não só agrava as desigualdades sociais, mas também prejudica o futuro sustentável do país.
Em um país com tanta desigualdade, é evidente que o crescimento econômico precisa ser mais do que um número bonito nas estatísticas. O verdadeiro crescimento acontece quando ele chega ao bolso de todos, especialmente dos mais pobres, e quando as políticas públicas são orientadas para reduzir a desigualdade e melhorar a qualidade de vida de quem mais precisa.
Portanto, da próxima vez que você ouvir que o PIB cresceu, lembre-se: esse “bolo” de crescimento não é para todos. Enquanto os ricos continuam acumulando, os mais pobres ficam à margem, sem sequer uma fatia desse crescimento. A pergunta que fica é: quando o crescimento deixará de ser apenas um número e se tornará, de fato, desenvolvimento para todos?