Tratamento correto pode salvar vidas
A depressão foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o “mal do século XXI”. De acordo com dados da OMS, o Brasil é considerado o país mais ansioso e estressado da América Latina. Nos últimos dez anos o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra. No Brasil, 5,8% dos habitantes -a maior taxa do continente latino-americano- sofrem com o problema.
Mais do que sentir-se triste por alguns dias, a depressão não escolhe idade, cor da pele, credo ou classe social, e pode ter resultados devastadores na vida de quem sofre com a doença ou de quem está próximo. Em muitos casos, o suicídio é a decisão de quem sofre com o transtorno e é preciso ficar atento para identificar e tratar a doença a tempo. “Na verdade eu comecei a aparentar ter os sintomas de depressão aos 16 anos, eu lembro até o dia exato, dia 12 de agosto de 2005. Eu acordei e pensei ‘nossa, porque viver? Pra quê viver? Eu não tenho motivo, eu só causo transtorno às pessoas.’ Era o que eu sentia naquele momento”, relembrou a jornalista Anne Nascimento, que convive com a doença há quase 14 anos.
Para que a história de Anne não tivesse um final triste como a de muitos jovens brasileiros, ela contou com o colo da mãe e também ajuda de um profissional de psicologia. “Quem é depressivo sabe que vai muito além disso, do que eu estou falando… é você não querer lavar o cabelo, não querer tomar banho, você esquece que é uma pessoa. Foi quando busquei ajuda da minha mãe, que prontamente disse ‘sim’. Ela me ajudou, ela não nunca me olhou com aquele papo de que é frescura. Eu comecei o tratamento aos 16 anos, hoje tenho 30, sem interrupções, e hoje eu digo que vivo com a depressão todos os dias bem, eu não digo que eu superei, porque eu não vejo como algo a ser superado. A depressão, eu estou convivendo com ela e estou vivendo muito bem.”
O psicólogo Antônio Mota alerta que é preciso saber identificar a doença, que além de ser muito perigosa, pode estar onde menos se espera. “O principal, o mais importante, é não julgar, é tentar compreender a pessoa em cima do que ela está sentindo, diante disso, é procurar entender, procurar estar perto, e o principal, ouvir. Diante disso, conseguir estratégias para se achegar e por meio disso, tentar trazer a pessoa para um tipo de acolhimento.”
Mota explica ainda, quais os sintomas comuns a quem tem o transtorno, “ela é muito característica como tristeza, porém a gente precisa ter a sensibilidade de diferenciar uma tristeza normal, no qual eu e você sentimos diariamente, de um sintoma mais patológico, que é a depressão. É uma intensidade maior de tristeza, por um período muito maior. Por exemplo, a tristeza é algo recorrente no dia-a-dia, a depressão é no mínimo entre 15 e 30 dias com os mesmos sintomas, com o mesmo desinteresse nas atividades diárias, no qual as atividades laborais são totalmente comprometidas.”
Atendimento
A qualidade do serviço psicológico prestado ao paciente depressivo tanto na rede privada, como na pública, é fundamental para o sucesso do tratamento. Essa orientação adequada é o objetivo das entidades de saúde mental, como explica a presidente do Comitê de Orientação e Ética do Conselho Regional de Psicologia, Talita Mortari, “a gente entende que uma rede com poucos profissionais não terá uma qualidade do serviço à população. Estamos sempre em campanha de orientação à população.”
Em Rio Branco, existe um núcleo de prevenção de suicídio no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco. O plantão psicológico é de segunda a sexta, de 8h às 12h. O local possui leitos para prestar toda a assistência necessária sem custos. Outro meio de buscar ajuda é o disque prevenção de suicídio, através do telefone 188.
“Você que sofre ou tem esse tipo de tristeza de forma intensa e que de desestrutura diariamente é não se calar, é procurar ter a sensibilidade de entende o que você está passando, não se preocupar com nenhum tipo de julgamento, e principalmente, não ter vergonha. A depressão tem inúmeras saídas hoje em dia num mundo totalmente globalizado e atualizado, onde a gente consegue encontrar meios e estratégias particulares pra que você possa se preocupar. Se você tem sintomas como perda de interesse diário, como tristeza recorrente na maior parte do dia, não se cale, procure um profissional de sua confiança e cuide de você”, concluiu Mota.