Por: Elizângela Mendonça
O racismo se sustenta até os dias de hoje em nossa sociedade, por meio de ações e negligencias, por falas e pelos não ditos. Nas escolas devemos redobrar as atenções às relações estabelecidas e as medidas necessárias para os conflitos que acontecem. Sendo esse trabalho fundamental para coibir violências verbais e comportamentais, cuidando sempre para que estas não evoluam para violência física.
É fundamental que nós educadores saibamos identificar a relação entre bullying e racismo. Sabemos que ambos têm o objetivo de ferir e agredir o outro, sabemos ainda, que ambos são violências graves. Mas o bullying acontece obrigatoriamente entre pares, é sistemático, de um mesmo autor para uma mesma vítima ou pequeno grupo e costuma acontecer longe dos olhos dos adultos. Já o racismo, basta que aconteça uma vez para que se configure como tal. Pode partir dos adultos e acontece muitas vezes na frente dos outros e, ainda que se queira ofender uma pessoa específica, é mais uma ferida que se abre em toda uma população.
Nesse sentido, a educadora Fátima Santana, da rede pública de Lauro de Freitas, munícipio da Bahia, dimensiona “toda vez que uma criança negra sofre racismo, as consequências para ela são terríveis. Sua dignidade e sua subjetividade são feridas. Mas não apenas: é todo um coletivo de pessoas, é toda essa ancestralidade que é atingida”.
Sendo assim, práticas racistas também são exercidas por professores e outros integrantes da equipe escolar. Essas práticas podem aparecer de maneira sútil, sem falas diretas, como xingamentos, mas por meio de ideias e posturas como ser contra cotas, achar que existe racismo reverso, que racismo é coisa do passado e até a noção de meritocracia.
O racismo segue sendo um problema persistente em sociedades ao redor do mundo, e o Brasil não é exceção. A discriminação racial afeta milhões de pessoas diariamente e impede a construção de uma sociedade verdadeiramente justa, inclusiva e democrática. No entanto, existem caminhos que podem ser seguidos para combatê-lo e promover a igualdade racial no país.
As escolas devem formar seu quadro docente e de todo o corpo escolar para as relações étnico-raciais. Os encontros de formações são muito importantes pois, também aparecem discussões relacionadas à homofobia, gordofobia e a xenofobia, que são questões importantes, dessa forma pode-se pensar em como se combater além do racismo outras formas de opressões dentro das sociedades.
As formações para as relações étnico-raciais, como pauta nas formações continuadas, é um caminho para formar os adultos, porque não adianta abordar o tema só com as crianças. Vale lembrar que quando nos referimos a crianças e adolescentes, dizemos que eles “reproduzem o racismo”, e não que “são racistas”. Isso serve para enfatizar que ninguém nasce com preconceitos raciais, mas que isso é ensinado a partir do convívio com outras pessoas. Quando um caso de discriminação acontece entre os estudantes, a orientação é parar tudo e endereçar a questão junto a todos os envolvidos. É necessário apostar no diálogo, só não pode deixar passar. É importante reunir o grupo e discutir. Depois, fazer um planejamento das aulas a partir desse ponto.
É sempre importante lembrar que o diálogo tem limite: sobre algumas questões cabe a conversa, mas em outras a lei deve ser aplicada. No Brasil, racismo e injúria racial são crimes e podem levar à prisão por até cinco anos. O primeiro trata da discriminação de uma etnia em geral, por exemplo, negar o acesso à escola por motivo relacionado à raça. O segundo diz respeito a ofender outra pessoa usando elementos de sua raça, etnia, cor, origem ou religião.
Uma das estratégias fundamentais para o combate ao racismo no Brasil é a educação. É necessário que as escolas abordem a história do país de forma abrangente, incluindo a história dos povos indígenas, dos afrodescendentes e de outras minorias étnicas. Além disso, é importante ensinar sobre igualdade, respeito e valorização da diversidade desde cedo. A educação pode ajudar a desconstruir estereótipos e preconceitos, criando uma base sólida para uma sociedade mais inclusiva.
Referências
Caminhos para combate ao racismo no Brasil: Estratégias eficazes para uma sociedade mais justa e inclusiva. Pedagogia ao Pé da Letra, 2023. Disponível em: <https://pedagogiaaopedaletra.com/caminhos-para-combate-ao-racismo-no-brasil/>. Acesso em: 12 de julho de 2024.
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Professora Elizângela Mendonça, graduada em Pedagogia, Especialista em Gestão e Educação para as Relações Étnico-Raciais, servidora pública efetiva do Estado e da Prefeitura, atualmente a disposição do Estado exercendo o mandato de diretora da Escola Ruy Azevedo. Membro da Coordenação de Ensino do Neabi/Ufac, espaço que atua como formadora em ERER.