Com cinco vencedores de diversos cantos do país, a edição 2025 do Prêmio Chico Mendes de Resistência aconteceu na noite de segunda-feira (15), abrindo a programação da Semana Chico Mendes. O “Desaguar da COP30” contou a presença de diversos líderes, personalidades e autoridades acreanas tanto no dispositivo de honra, quanto assistindo a cerimônia.
“81 anos de Chico Mendes. Não é como se fosse se ele estivesse aqui. Nenhuma pessoa morre quando faz luta. Nenhuma pessoa morre quando deixa legado. Porque ninguém morre quando ancestraliza e deixa muita semente. Dizer que é nesse canto que atravessa a Amazônia que Chico Mendes nos chamou para a grande aliança da floresta. E a aliança é compreender que, sem os povos da floresta, não existe Amazônia de pé. Não existe floresta sem os seringueiros”, declarou a deputada federal Célia Xakriabá.
Ela foi vencedora da categoria Ativismo nas Redes e recebeu o troféu das mãos de Angela Mendes, presidente do Comitê Chico Mendes e filha primogênita do líder sindicalista. Além dela, foram premiados:

Noite abriu as programações do aniversário de Chico e da Semana Chico Mendes. Foto: Alexandre Noronha
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Daniel de Souza na categoria “Personalidade”;
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Matheus Silva na categoria “Jovem Liderança”;
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REPAM na categoria “Relevância Institucional”;
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Associação de moradores da Reserva Extrativista da Prainha na categoria “Povos Originários e Comunidades Tradicionais”
Mais que um prêmio
Nascido da urgência e da autonomia, um reconhecimento anual é uma declaração de que os ideais de Chico Mendes persistem, moldados e sustentados unicamente pela disciplina e organização do Comitê Chico Mendes e seus parceiros: O Prêmio Chico Mendes de Resistência. No Acre, o Comitê Chico Mendes, guardião desse legado, tem sido o pilar para que os ideais de sustentabilidade socioambiental, direitos humanos e resistência não se percam nas veredas do tempo. Gomercindo Rodrigues falou mais um pouco sobre em sua fala:
“São categorias que reúnem muitas pessoas que poderiam ser premiadas, mas sabemos que não é possível contemplar todas aquelas e aqueles que fazem parte dessa luta. A proposta é que o prêmio represente diferentes partes deste país, pessoas, coletivos e comunidades que seguem levando adiante os ideais de Chico Mendes, que continuam acreditando e construindo um futuro sem destruição.”
Xakriabá ainda disse que defender a floresta sem defender os povos é exatamente um deserto de pensamento. Segundo a entrevistada, a fronteira está no pensamento que mata, que violenta. E por isso;
“Nós também iremos homenagear esse homem que não fez história somente para o Acre. E dizer que, enquanto primeira mulher presidenta da Comissão da Amazônia, Povos Originários e Tradicionais, nós estamos aqui para afirmar que a floresta não é somente o outro”.
Ativismo em suas mais variadas formas
Ainda sobre a sua categoria, “Ativismo nas Redes”, a deputada afirmou as contradições e acusações que sofre diariamente:
E não adianta vir falar de indígena de iPhone. Porque, na verdade, nós pegamos o nosso iPhone e denunciamos os destruidores, denunciamos os racistas. Porque nós não deixaremos de ser indígenas. Nós fazemos do Instagram o OraliGram. Nós fazemos do Facebook a face da terra. Nós fazemos do Twitter, que significa um pássaro, um pio, uma flecha certeira. Nós sabemos que comunicação é uma flecha certeira.

Vencedores do concurso Uma Carta para Chico também subiram no palco da noite de abertura. Foto: Alexandre Noronha
Originalmente, o reconhecimento às causas socioambientais no Acre se materializava no “Prêmio Chico Mendes de Florestania”, uma iniciativa instituída pelo Estado do Acre por meio do Decreto Nº 10.860, em 3 de setembro de 2004. Este prêmio visava reconhecer o conceito de florestania, “um modo de pensar, criar, produzir e ser feliz, tipicamente amazônico”, que busca construir uma sociedade tradicional, moderna, original e solidária.
“Por isso, todos os anos, desde 2019, o Comitê realiza uma seleção a partir de inscrições vindas de diferentes regiões do Brasil, de entidades, de pessoas, de jovens e de comunidades que representam a continuidade do legado de Chico Mendes”, reflete ‘Guma’, o Gomercindo.
Chico Semente
Até o ano de 2018, esta premiação era concedida pelo governo estadual, com o Comitê Chico Mendes desempenhando um papel ativo na seleção de personalidades, instituições e comunidades homenageadas. Rodrigues continua:

Seu Raimundão protagonizou um dos momentos mais emocionantes no palco. Foto: Alexandre Noronha
“É uma honra para o Comitê Chico Mendes escolher pessoas que simbolizam essa luta e a permanência dela no tempo. E nada mais simbólico do que fazer essa homenagem sempre no início da Semana Chico Mendes, no dia do aniversário de Chico, lembrando sua trajetória por meio de quem mantém seus ideais vivos.”
Já, a deputada em sua fala relembrou a importância de iniciativas como a Semana Chico Mendes, o Festival Jovens do Futuro, o Prêmio Chico Mendes de Resistência e tantas outras lutas e empreendimentos que organizações sociais realizam:
“Por isso, defender as terras mais raras é defender o nosso pensamento. Porque nós sabemos que Chico nunca morreu. Chico permanece vivo. A cada vez que pegamos o microfone no Congresso Nacional e lutamos contra o PL da devastação. Porque defender a árvore, defender a floresta, não é defender somente a respiração. É defender o pulmão e o coração do mundo”, afirmou Célia Xakriabá.
Porque na invasão desse país nós fomos vítimas dessa trama.
Eu nem sei se chamam de Brasil ou se chamam Pindorama.
Foram muitas lutas e muitas dores que ficaram gravadas na memória.
Seja Chico Mendes, seja a mulher indígena, protagonista dessa história.
Muita gente se pergunta como faz para ser ativista, indígena ou negra.
Assuma sua luta primeiro.
Porque ser ativista ou indígena é defender o território, é ter cultura, ancestralidade, é ter pensamento sem abandonar a espiritualidade.
Porque nós somos o povo que resiste pela força do cantar.
Antes mesmo de existir o Brasil da coroa, já existia o Brasil do nosso cocar.
Nós seguimos fazendo a diferença porque sabemos que também precisamos reflorestar as nossas mentes.
Quem disse que Chico Mendes não está vivo aqui hoje? Chico Mendes vive.
Chico semente!
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Poesia recitada por Célia Xakriabá no palco.
Texto: Comitê Chico Mendes/Victor Manoel



