Essa semana me chamou atenção a denúncia de um representante do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) sobre a improvisação, primitiva, que as presas de Rio Branco têm precisado fazer durante o período menstrual.
Elas retiram o miolo do pão que recebem durante as refeições, e utilizam como tampão, em uma espécie de absorvente improvisado, para conter o fluxo sanguíneo. São dois problemas em um só. Essas mulheres não estão se alimentando corretamente, porque precisam usar parte da alimentação destinada a elas como medida para conter a menstruação, sem contar que a medida improvisada é anti-higiênica e pode provocar problemas de saúde nas mulheres.
Toda essa situação me lembrou do livro Presos que menstruam da jornalista brasileira Nana Queiroz. A obra traz um perfil da vida de diversas mulheres presas no país, e além de contar trechos de histórias de mulheres atrás das grades de vários presídios do Brasil, de norte a sul, nos permite conhecer pessoas diferentes, e traz algumas reflexões sobre gênero e o sistema prisional do país.
Na época acadêmica de Jornalismo, Nana se deparou com a falta de escritos e pesquisas sobre as mulheres nos presídios do Brasil, o que motivou a universitária a ir atrás de informações. Ao longo de cinco anos, a estudante visitou mais de dez penitenciárias, pelo menos uma em cada região do país. Em uma forma se tornar próxima dessas mulheres, Queiroz se inscreveu para ser visitante de algumas dessas presas, participou de trabalhos voluntários em presídios e trocou cartas com algumas mulheres que cumpriam penas.
Um problema observado por Nana, narrado por ela e pelas próprias presas, é o abandono delas por parte da família. O tempo que elas passam na prisão acaba sendo solitário, sem receber visitas de familiares. Diferente dos homens, que em geral, são apoiados por suas companheiras enquanto estão presos, e recebem visitas e mantimentos. As mulheres por outro lado não tem com quem contar, e acabam enfrentando problemas como o da falta de absorventes.
A história de Daniele Toledo ficou conhecida a nível nacional em 2006, e enquanto esteve presa injustamente, a autora conseguiu conversar com a jovem e contar sua história. Daniele foi acusada de matar a própria filha, uma bebê de colo, com cocaína na mamadeira. Ela foi presa minutos após da morte da filha, acusada de ter cometido o crime. Acontece que Daniele nunca usou drogas, e nem matou a filha.
O teste apresentou um falso positivo, e quando esteve presa, a jovem quase perdeu a vida. Foi agredida e perdeu a visão e audição do lado direito, além de terem formado coágulos em sua cabeça. Os exames posteriores descobriram que não foi a mãe quem matou a filha, mas o que causou a morte ainda segue sendo um mistério. O que estava na mamadeira da criança era na verdade resquícios do medicamento que ela tomava para tratar convulsões.
Outra reflexão e percepção que o livro nos aborda é sobre por que e como as mulheres são presas. Nana traz dados apontando que a grande maioria delas são presas por tráfico de drogas, e por causa de homens, sejam eles seus companheiros ou familiares. As mulheres vão ajudá-los em algum momento, e acabam sendo presas.
São histórias reais, de mulheres reais, e principalmente, no nosso país tão desigual. É importante durante a leitura nos despirmos de julgamentos e pré-conceitos. Obviamente o livro aborda a vida de pessoas que cometeram algum delito, mas, que estão cumprindo suas penas em um local que não ressocializa o preso – que é essa uma das funções dos presídios, funcionar como um local de ressocialização.
A leitura é fluida, alguns textos são menores que outros, e alguns não trazem histórias completas. A autora tem algumas dificuldades com a burocracia do país para dar acesso aos presídios, por exemplo. Algumas histórias as próprias narradoras não encerram, talvez porque elas realmente não tenham tido fim, já que as mulheres se encontram cumprindo suas penas…
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Pâmela Freitas é jornalista formada pela Ufac, pós-graduanda em Jornalismo Digital pela Unyleya e repórter no site Agazeta.net