Foco são as crianças, mas os pais estão juntos
A equipe do site Agazeta.net conheceu um projeto inovador onde crianças do bairro São Francisco, não só conhecem a arte circense, mas têm a oportunidade de trabalhar conceitos de cidadania de uma forma bem divertida, dando risadas e fazendo os outros rirem também.
O projeto começou a ser desenvolvido no início deste ano, idealizado e coordenado por Alcinethe Damasceno. Diariamente, passam pela lona encantada entre 50 e 60 crianças. Em dias de eventos, cerca de 100 crianças dão pinotes e cambalhotas.
Na despedida de todo encontro, fica o espírito da música que diz que “Hora de ir embora/Quando o corpo quer ficar/Toda alma de artista quer partir/ Arte de deixar algum lugar/ Quando não se tem pra onde ir”.
As crianças não querem sair. Sentem-se donas do momento. Seja no palco, na Carroça da Sabedoria ou na Rádio da Alegria: um momento em que a voz e as atenções são delas, envolvidas por um cotidiano sem nenhum brilho.
O Projeto Rumos ao Novo Eldorado Uma Experiência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável no Acre abrange os residenciais Eldorado, Eldorado I e Eldorado II, composto por 517 unidades habitacionais, com cerca de 5 mil pessoas.
Para Alcinethe, os eventos têm tido uma repercussão tão grande que moradores de bairros próximos à tenda participam das ações desenvolvidas no local. De acordo com Alcinethe, o foco é que as crianças não fiquem na rua, vulneráveis à marginalidade. Os resultados já começaram a ser notados. “Alguns pais vieram falar que o filho melhorou de comportamento”, alegra-se a coordenadora.
Outro dado que a coordenadora aponta é a quantidade de assaltos na região. Durante a elaboração do projeto, foi realizada uma pesquisa que apontou um índice de 25% de assaltos na região, um número que está sendo reduzido com o trabalho do Projeto Rumos. “O circo é um espaço comunitário pra que a gente possa desenvolver esse projeto social.
É um espaço para reuniões, cursos e treinamentos, e também para espetáculos, programação artística e cultural”, explica Damasceno.
O projeto é desenvolvido em mais dez estados do país, porém apenas no Acre é desenvolvido através do circo.
Cidadania em foco
A Carroça da Alegria tem um papel importante na comunidade: nela é colocada uma caixa de som e, com o microfone, são repassadas ações de incentivo aos populares, como por exemplo, o simples ato de fechar a torneira e diminuir o desperdício de água.
Outras ações são desenvolvidas, como exemplo, a reciclagem. Sacos de cimento são reaproveitados e até a água usada na lavagem do material é reciclada, sendo proveniente da chuva. O papel é utilizado na fabricação de blocos de notas, folders e sacolas.
Talento nato
Taís Emília de Souza, de 12 anos, assim como outras crianças, participa do projeto desde o início. Mas, ela chama atenção. Tímida, a garota é muito dedicada no que faz e já aprendeu a realizar praticamente todas as ‘peripécias’ feitas no circo.
A menina anda de monociclo, perna de pau, faz malabares com pinos e com bolinhas, tudo com graça e a perfeição como os profissionais que treinam há anos executam.
Sobre o projeto, Taís diz achar legal e já tem consciência que é algo bom para todos. “É legal. As crianças têm mais tempo pra brincar do que ficarem na rua fazendo coisa errada”, diz a jovem prodígio.
Aprovação de populares
O vendedor ambulante de sabão e flores artesanais, João Domingues, de 57 anos, vê o projeto como uma ótima oportunidade. “O que eu observo é que as crianças, ao invés de ficarem nas ruas, estão fazendo uma atividade aqui. Isso me deixa impressionado. Além disso, eu participo das feirinhas [referindo-se aos eventos], o que é bom pra mim, incentiva a gente a aprender novas coisas”.
Já a dona de casa Simone de Paula, 38, tem um filho que participa das atividades no circo. Ela também participou de um dos cursos oferecidos no local, e diz que vê a ação como benéfica a todos os populares.
“Benefício para as mães e para os filhos, sem sair de casa, já que é aqui próximo da gente. Eu vinha fazer o curso e não me atrapalhava em nada”. Ela também avalia o projeto como positivo em relação a diminuição da criminalidade. “A criança sai da rua e participa do projeto ficando longe da violência. É muito bom que o projeto fique”.
Novos Rumos
A coordenadora do projeto tem como objetivo expandir e levar as ações do circo para outras comunidades do Estado. Para isso ela precisa de apoio e investimento de entidades e empresas, tendo em vista que o projeto sobrevive graças ao incentivo da Caixa Econômica, de parcerias com órgãos ligados ao Governo (que oferecem os cursos) e voluntários.
Veja algumas fotos do Projeto Rumos em Rio Branco
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