O processo que julga o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), no Superior Tribunal de Justiça (STJ), teve início nesta quarta-feira (17), mas terminou sem definição. Após o voto da relatora, ministra Nancy Andrighi, pela condenação do chefe do Executivo estadual, o julgamento foi suspenso por pedido de vista do ministro João Otávio de Noronha. Com isso, a análise do caso só deve ser retomada em 2026, em pleno ano eleitoral.
O adiamento prolonga um processo que tramita no STJ desde 2021 e marca a terceira vez que o julgamento é interrompido. Gladson Cameli se tornou réu em maio de 2024, após a Corte aceitar denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que o aponta como suposto líder de um esquema de desvios de recursos públicos investigado pela Operação Ptolomeu.
No único voto apresentado até o momento, a ministra Nancy Andrighi se posicionou pela procedência da denúncia e defendeu a condenação do governador a 25 anos e 9 meses de prisão, em regime inicial fechado. O voto também prevê o pagamento de 600 dias-multa, indenização de R$ 11,78 milhões por danos morais coletivos e a perda imediata do mandato.
Durante a leitura do voto, a ministra explicou que a dosimetria da pena foi revista após questionamentos feitos pelos ministros Benedito Gonçalves e Benjamin, o que resultou na redução do tempo de condenação inicialmente calculado.
“O ministro Benedito fez umas considerações para mim. E eu revi, por isso que ficou mais baixa a pena. Eu acolhi a sugestão, entendi que a sugestão do ministro Benedito era muito apropriada e que eu deveria adotá-la. É por isso que baixou a pena. Então fica ratificada a proclamação”, afirmou a relatora.
Gladson Cameli responde por organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro e fraude em licitações. Apesar da gravidade das acusações, o pedido de afastamento do cargo já havia sido analisado anteriormente e rejeitado pelo STJ.
O julgamento foi suspenso antes que os demais ministros apresentassem seus votos, o que impede qualquer definição sobre o resultado final neste momento.
Governador afirma que processo segue sem conclusão
Após a suspensão do julgamento, o governador divulgou nota afirmando que não há decisão final e que apenas a relatora manifestou seu entendimento até agora. Segundo Cameli, o processo segue inconclusivo e qualquer desfecho depende da manifestação da maioria dos ministros, além do esgotamento de eventuais recursos.
“O julgamento a respeito do processo sobre a Operação Ptolomeu, iniciado durante a tarde de hoje, foi suspenso sem conclusão final, até a definição de nova data para ser retomado; Até agora, o que se tem é apenas a leitura e sugestão da relatora, a ministra Fátima Nancy Andrighi, a respeito da sua posição diante das alegações da acusação”, disse o governador em nota.
Gladson prestou depoimento ao STJ em novembro de 2024 e negou todas as acusações feitas pela PGR.
PT se pronúncia sobre situação no Acre
O Partido dos Trabalhadores no Acre também se pronunciou por meio de nota pública. A sigla afirmou que o julgamento expõe um cenário de instabilidade política e institucional no Estado e classificou o momento como inédito na história acreana.
“Trata-se de um episódio triste para o povo acreano, que não traz benefícios a ninguém e aprofunda um cenário de instabilidade política, econômica e social. Pela primeira vez na história do Acre, um governador em exercício torna-se réu e é julgado, em instância superior, por crimes de extrema gravidade, o que evidencia a dimensão inédita e alarmante do momento vivido pelo Estado”, disse nota.
Na nota, o partido também afirma que as provas que fundamentaram o voto da relatora não dependem dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) do Coaf e que a investigação teve início durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
STF anula parte das provas, mas processo segue no STJ
Enquanto o julgamento no STJ foi interrompido, outra decisão envolvendo o governador foi tomada no Supremo Tribunal Federal. Na terça-feira (16), a Segunda Turma do STF formou maioria para invalidar parte das provas financeiras produzidas no âmbito da Operação Ptolomeu.
Apesar disso, o entendimento apresentado no STJ é de que a ação penal pode prosseguir com base em outros elementos do processo, considerados independentes das provas questionadas no Supremo.
Sem data definida para retomada, o julgamento de Gladson Cameli permanece em aberto e passa a integrar o cenário político do Acre às vésperas de um novo ciclo eleitoral.
Veja notas na íntegra:
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Nota Partido dos Trabalhadores Acre:
O Partido dos Trabalhadores manifesta profunda preocupação diante da grave situação institucional vivida pelo Estado do Acre, em razão do julgamento do governador Gladson Cameli no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Trata-se de um episódio triste para o povo acreano, que não traz benefícios a ninguém e aprofunda um cenário de instabilidade política, econômica e social. Pela primeira vez na história do Acre, um governador em exercício torna-se réu e é julgado, em instância superior, por crimes de extrema gravidade, o que evidencia a dimensão inédita e alarmante do momento vivido pelo Estado.
É importante esclarecer à sociedade que a Ministra Relatora Nancy Andrighi foi categórica ao afirmar que o julgamento dos crimes imputados ao governador no STJ não é afetado pelos Habeas Corpus em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF) relacionados a Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) do COAF. As provas que fundamentaram o voto condenatório resultam de diligências regularmente autorizadas pelo próprio STJ, com base em auditorias da Controladoria-Geral da União (CGU), mensagens de texto e áudio dos envolvidos, contratos formalmente assinados e operações financeiras ilícitas envolvendo empresas ligadas à família Cameli. São provas robustas, autônomas e desvinculadas dos RIFs questionados no STF.
A Ministra Nancy Andrighi, uma das mais respeitadas juristas do país, concluiu em seu voto pela condenação do governador Gladson Cameli a 25 anos e 9 meses de prisão em regime inicial fechado, além de multa e perda do cargo, por considerá-lo líder de uma organização criminosa que, segundo o voto e os autos do processo, saqueou os cofres públicos do Estado do Acre. A relatora também votou pelo afastamento imediato do governador, medida que poderá ser confirmada pela Corte Especial do STJ após o recesso, sem necessidade de aguardar o trânsito em julgado.
Cabe destacar, ainda, que toda a investigação teve início no âmbito da Polícia Federal durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado político de Gladson Cameli à época. Esse fato afasta qualquer tentativa de atribuir motivação político-partidária às investigações e reforça o caráter técnico e institucional do trabalho realizado pelos órgãos de controle e justiça.
O julgamento revela, de forma dolorosa, o que de fato ocorreu no Acre nos últimos anos, as mazelas sociais, a falta investimentos em áreas essenciais, a precarização da saúde pública, as dificuldades na educação, o aumento vertiginoso da violência.
O Partido dos Trabalhadores reafirma seu compromisso com a democracia, com o fortalecimento das instituições e com a defesa intransigente do interesse público. O Acre precisa virar essa página, reconstruir a confiança nas instituições e retomar um projeto de desenvolvimento que coloque as pessoas em primeiro lugar, com ética, transparência e responsabilidade na gestão dos recursos públicos.
O julgamento segue após o retorno do judiciário. Que a justiça seja feita.
Rio Branco-Acre, 17 de dezembro de 2025.
Partido dos Trabalhadores – PT/Acre



