Mesmo com os avanços no debate sobre inclusão e equidade, os dados ainda revelam uma realidade preocupante: mulheres e pessoas negras continuam recebendo, em média, salários mais baixos do que homens brancos no Brasil. Essa diferença não diz respeito apenas à comparação entre profissionais que ocupam o mesmo cargo ou possuem a mesma formação. O que os números mostram é que determinados grupos acabam concentrados em ocupações menos valorizadas, enquanto outros predominam em posições mais bem remuneradas.
Para que essa análise fique mais próxima da sua realidade, caro leitor, e não pareça algo distante ou abstrato, trouxe como exemplo os dados da nossa própria capital, Rio Branco. Assim, fica mais fácil compreender como essa desigualdade se manifesta no nosso cotidiano, e não apenas em números nacionais ou de outras regiões do país.
Aqui, os dados do primeiro trimestre de 2025 refletem esse padrão com clareza. Ao observar a renda real média dos trabalhadores por gênero e cor da pele, percebemos que homens brancos e amarelos registram os maiores rendimentos, enquanto mulheres negras, pardas e amarelas estão entre as que recebem os valores mais baixos.

É importante ressaltar que esses números não representam, necessariamente, discriminação direta por parte de empregadores. Não se está afirmando a existência de racismo ou sexismo explícito no mercado formal de trabalho.
O que os dados expõem é uma desigualdade estrutural, que se manifesta nos resultados médios entre grupos populacionais. Homens brancos, em média, seguem recebendo mais; mulheres negras, menos.
Essa diferença é explicada por uma série de fatores históricos e sociais: o acesso desigual à educação de qualidade, a menor presença em redes profissionais influentes, a sobrecarga com o trabalho doméstico e a reprodução de estigmas que dificultam o avanço de certos grupos dentro das organizações. São barreiras que se formam muito antes da entrada no mercado de trabalho e que moldam trajetórias profissionais desiguais ao longo do tempo.
Vale ressaltar que esse padrão de desigualdade não é exclusivo do Acre. Em estados economicamente mais desenvolvidos, como São Paulo ou o Distrito Federal, as disparidades salariais por gênero e cor não apenas persistem, como chegam a ser ainda maiores. Isso mostra que a desigualdade é nacional, não necessariamente atrelada ao nível de desenvolvimento regional, mas sim à forma como o mercado de trabalho é estruturado e acessado.
Vale também destacar que uma diferença menor entre grupos, como se observa no Acre, não deve ser entendida como um avanço. Em muitos casos, isso apenas reflete uma realidade em que todos os segmentos, inclusive aqueles historicamente privilegiados, estão inseridos em um mercado com baixa remuneração média.
Isso torna a situação ainda mais desafiadora para mulheres e pessoas negras, que já partem de uma base estruturalmente mais frágil.
Se conscientizar sobre essa realidade é fundamental, pois o que se vê com frequência é a reprodução de um discurso que tenta minimizar ou negar a existência dessas disparidades salariais estruturais.




