A Igreja Católica responsável pela unidade, diz que não tem dinheiro para manter o atendimento
A Casa de Acolhida Souza Araújo é conhecida por acolher e cuidar de pessoas com hanseníase. Contudo, após a visita da Prefeitura de Rio Branco nesta segunda-feira, 30, em alusão ao Janeiro Roxo, data em que são realizadas campanhas de conscientização sobre essa doença, foi descoberto que os pacientes do hospital podem ficar sem o atendimento por falta de recursos.
A Igreja Católica responsável pela unidade, diz que não tem dinheiro para manter o atendimento das pessoas que moram na colônia e nem os pacientes rotativos. O ambiente precisa de reformas, recursos para remédios e alimentos.

Tendo em vista, que essas despesas deveriam ser do Governo do Estado, que repassa apenas uma pequena parte do recurso. Dessa forma, os anos passam, e a política aplicada a hanseníase continua fazendo vítimas.
“Gostaríamos de fazer mais, como reformas, que são necessárias. Não temos condições. O repasso do Governo não cobre as despesas que a casa tem “, diz o bispo Dom Joaquin Pertiñez.
A Prefeitura de Rio Branco que fez um evento para ouvir os pacientes antigos, disse que pode ajudar a Casa de Acolhida Souza Araújo, mas que ainda não sabe como, apenas que algo precisa ser feito para que a única unidade de atendimento especializado a hanseníase não feche as portas.
“Nós temos muito trabalho para fazer aqui neste local. Por mais que não seja um ponto de referência da nossa Prefeitura, eu acredito que nós possamos fazer parceria com o Estado, e assim cuidar melhor deste ambiente”, explica o coordenador de Vigilância em Saúde de Rio Branco, Leandro Siqueira.
Sem recursos, os 20 moradores vão ficar sem assistência, pois eles dependem do hospital para atendimento médico, cuidados de higiene, remédios, alimentação, carinho e acolhimento. O morador do Souza Araújo, João Pinto, que gosta de ouvir música nos corredores disse que o local não é um hospital.
“É a minha casa. Então, isso mudou muito. Quando você é doente, tem que estar junto dos doentes mesmo, pois estando no meio dos doentes, todos sabem que você é doente”, relata
Outros 30 pacientes também dependem do atendimento do Souza Araújo, pois eles vêm de vários municípios, inclusive do Amazonas em busca de tratamento e de um pouco de dignidade.
“Gostaríamos que fosse melhor, pois eles merecem uma maior dignidade como pacientes que são. “, acrescenta o bispo.
Moradores
A Adelaide Apolônio dos Santos tem 85 anos, desses 67 anos foram vividos dentro do hospital colônia Souza Araújo, aos 18 anos foi obrigada a sair de casa e se isolar da família e do mundo por causa da hanseníase, a doença que ela chama de prisão.
“Essa doença é uma prisão. A gente tem medo de todo mundo descobrir a doença. A gente fica querendo se esconder do povo. E as vezes o povo quer ver a pessoa, mas nem sempre tem esse retorno”, conta a moradora.

A Adelaide é a moradora mais antiga do hospital Souza Araújo, ela vive na Ala das pessoas que nunca saíram da unidade e fixaram moradia. Com isso, no local ela casou com outro interno e mesmo com idade avançada lembra de tudo que passou por causa da doença.
“O que adianta a gente tomar o remédio da doença e ficar o corpo limpo, mas a doença não acaba, ela paralisa”, finaliza Santos.
Por décadas os governos brasileiros puniram as pessoas com hanseníase. Dessa forma, elas eram enviadas de forma compulsória para hospitais colônias. Esse isolamento tirou tudo que essas pessoas tinham, principalmente a família e a dignidade. A vontade de vive ajudou muita gente a resistir da solidão.
Como a moradora Fátima da Silva, aos 9 anos foi acometida pela hanseníase, ficou isolada junto com a mãe dela em um seringal em Tarauacá por 25 anos, quando veio para Rio Branco a mãe faleceu, sem ninguém na vida foi levada para o Souza Araújo. Até hoje, sofre quando lembra da separação do mundo proporcionada por uma política errada do governo. Atualmente se diverte com a companhia das bonecas que cuida com todo carinho e com quem sempre conversa.


“Aqui é a minha casa. Eu não tenho pra aonde morar. Eu não vou morar só em uma casa.”, finaliza Silva.
Com informações de Adailson Oliveira para TV Gazeta