Espaços públicos depredados e ociosos evidenciam crise
Somando as quadras de esportes mantidas pela Prefeitura de Rio Branco e do Governo do Estado, são quase 100 espaços na Capital. Nas duas gestões, características parecidas: em nenhuma delas o poder público mantém um programa para criar futuros atletas e evitar que crianças e adolescentes para o mundo do crime ou das drogas.
Basta passar nos bairros onde essas quadras e ginásios foram construídos. Na maior parte do tempo, estão vazias. Em determinados horários é possível ver jovens brincando futebol, nas famosas “peladas”.
A falta de investimento no esporte pode ser um motivo do crescimento da violência no Estado. Nos últimos meses, a Capital viu crescer os crimes de assassinatos. Eles são as marcas de grupos criminosos brigando por espaço ou acertando as contas.
A polícia pouco consegue identificar os autores desses crimes. Mas, é fácil revelar quem são as vítimas: a maioria é formada por jovens que perderam a vida de forma brutal e sem chance de defesa.
Em muitos casos, as vítimas dessa violência também cometeram crimes: furtaram, assaltaram e mataram. Uma pesquisa da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Acre, mostra que os jovens são as maiores vítimas de homicídios e também os maiores criminosos. Até o dia 12 de novembro desse ano, das 165 pessoas assassinadas, 56% eram jovens.
E entre os autores desses crimes o percentual subiu para 76%. Ao lado desses homicídios vem outro ingrediente: as drogas. De acordo com outra pesquisa do Estado, metade dos usuários é jovem entre 18 e 24 anos.
Todos têm baixa escolaridade: um quinto são analfabetos e apenas 6% concluíram o Ensino Médio. A maior parte não trabalha e, para completar, ¼ são casados e 39% já têm filhos.
Sem práticas esportivas falta dignidade e oportunidade
Por causa do crescimento da violência, geralmente o senso comum recorre a pedir mais policiamento e leis severas, e esquece como e por que essa violência começa. A falta de investimentos em Infraestrutura, Educação, Emprego e Esportes tira a dignidade e oportunidade de muitos jovens.
Um programa esportivo bem acompanhado, com metodologia e regularidade pode fazer a diferença. Uma quadra de esportes pode tirar muitos jovens da sedução das drogas e da violência. Essas informações todos sabem, mas, porque não são seguidas?
Nesse quesito, o Acre está bem distante de salvar crianças e adolescentes da criminalidade. Algumas dessas quadras expõem a realidade dos números. No conjunto universitário, a Prefeitura recuperou o ginásio e a única atividade são as “peladas”. Nas outras duas quadras do bairro, muita sujeira, destruição e nenhuma atividade.
Outra quadra recém construída no bairro Floresta, nem os peladeiros apareceram. Ao lado, na quadra de areia, só tem água acumulada.
Nas as áreas nobres, a situação não é diferente. No Parque da Maternidade, apenas uma das quadras servia para a brincadeira de um grupo de crianças.
O secretário de Esportes de Rio Branco, Afrânio Moura, assume que o município precisa ocupar esses espaços e levar programas de inclusão social, mas alega falta de recursos. “Temos essa meta no ano que vem, que é justamente ocuparmos algumas dessas quadras e levarmos programa de inclusão social”, prometeu.
Entrevista
No Calafate, o governo construiu vários conjuntos habitacionais e transformou a área numa das regiões mais violentas da Capital. Depois de muitas reclamações, construiu uma quadra de esportes, que está vazia.
No conjunto Mulateiro, no outro extremo da cidade, os moradores estão com uma área pedindo a construção da quadra.
Os bairros vivem diferentes realidades, mas a verdade é uma só. Os espaços para práticas esportivas foram construídos. No entanto, falta gestão para que o próprio poder público assuma, na prática, a condição de que o esporte pode ajudar a combater a violência e criar futuros atletas, disse o professor de Educação Física Renã Pontes, que apontou a área de esportes a que menos recebe incentivos.
“Pegue uma criança como essa e treine por um determinado período, não interessa a modalidade. No futuro, teremos vários atletas de alto rendimento. No Acre, os governos não estão interessados no futuro. Por isso, deixam de investir no essencial”, relatou Renã.
Cidade do Esporte virou cidade fantasma
Próximo ao estádio Arena da Floresta está o maior descaso com o espore no Acre: o governo construiu um conjunto de quadras esportivas: 15 no total. Todas ficam vazias a maior parte do dia. Apenas peladeiros aparecem. Programas e projetos, nenhum.
O que chama atenção mesmo é a ação dos vândalos. sem uso, a Cidade do Esporte está sendo destruída. Os bancos estão quebrados: onde deveria funcionar uma lanchonete só tem sujeira; um conjunto de banheiros está completamente destruído; portas, pias, vasos foram levados.
O local onde deveria ser frequentado por atletas virou espaço para o consumo de drogas e prostituição. O secretário de Estado de Esporte e Lazer, Petronilo Lopes, disse que busca parceiras com federações para ocupar o local e aproveitou a entrevista para anunciar a construção de mais uma obra no local, um centro olímpico. “Vamos ter mais espaço para a preparação de jovens e competições”, ressaltou.
Se a inclusão social não passa pelos programas de Esportes, o Governo do Acre e a Prefeitura de Rio Branco vão ter que rever os projetos. E quem deveria cobrar desses gestores, também, fica em silêncio.
O Ministério Público do Estado do Acre, que tanto fala no tema, nunca ajuizou uma ação: não cobra dos secretários um resultado e nem exige explicação do porquê gasta-se tanto dinheiro com quadras que sempre estão vazias.
As estruturas servem apenas de proselitismo político e mostra que o Ministério Público, nesse caso, olha o mundo pela janela.
Veja galeria de imagens de alguns espaços públicos esportivos depedrados e abandonados:
{gallery}galerias/EspoteCidadania{/gallery}