A tragédia que resultou na morte de dois trabalhadores durante um serviço de manutenção em torres de abastecimento de água em Rio Branco, não foi uma surpresa para quem acompanha de perto as condições de trabalho no setor da construção civil. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, o acidente era uma tragédia anunciada.
Os operários Ruan Roger da Silva Barbosa, de 32 anos, e Diony Magalhães Oliveira, de 22 anos, morreram intoxicados enquanto aplicavam um produto químico dentro de uma das caixas d’água, com cerca de 30 metros de altura, que abastecem um condomínio fechado da região. De acordo com o Corpo de Bombeiros, um dos trabalhadores entrou no reservatório para realizar o serviço, enquanto o outro permaneceu do lado de fora. Ao perceber que o colega estava passando mal, o segundo operário tentou socorrê-lo, mas também foi vítima da intoxicação. A retirada dos corpos levou horas.
Para o presidente do sindicato, José Adelmar de Assis, o episódio é consequência direta da falta de fiscalização e da ausência de medidas de segurança adequadas. Segundo ele, empresas terceirizadas têm atuado em condomínios de alto padrão sem oferecer condições básicas para os trabalhadores.
“Na semana passada, um trabalhador caiu de um andaime no City Park, outro condomínio fechado, porque não havia acompanhamento técnico de segurança. Não tem segurança, não tem fiscalização. E quando acontece, o resultado é esse: dois trabalhadores mortos”, afirmou.
De acordo com o sindicato, o problema é ainda mais grave porque as equipes de fiscalização não conseguem acesso aos condomínios de luxo, onde boa parte desses serviços é realizada. Segundo Adelmar, há resistência por parte dos administradores e moradores desses locais, incluindo membros do Judiciário e do Ministério Público.
“Nós não conseguimos entrar. Os condomínios negam as informações das empresas que atuam lá dentro. No Ecoville, por exemplo, só conseguimos entrar no ano passado por meio de uma liminar na Justiça. Eles barram na portaria, os seguranças não deixam passar. E isso impede que a gente saiba como estão as condições de trabalho”, denuncia.
Durante a visita feita por força judicial, o sindicato constatou que muitos operários estavam construindo mansões sem registro em carteira. Um deles sofreu um acidente recentemente, ao cair de um andaime, e agora busca ajuda por meio do sindicato porque também não tinha vínculo formal com a empresa.
Diante das dificuldades, o sindicato afirma que está buscando novas autorizações na Justiça para conseguir fiscalizar outros condomínios da cidade. “Se não houver fiscalização, novas tragédias vão acontecer. Estamos denunciando essa situação para que os órgãos responsáveis ajam”, alerta.
Com informações do repórter Adailson Oliveira



