A primeira parte do filme musical Wicked foi lançada nos cinemas brasileiros no final de 2024 e atualmente está indicado em 10 categorias do Oscar 2025, que acontece no início do próximo mês. Ele está ao lado de grandes nomes como Ainda Estou Aqui, que é uma produção totalmente nacional, estrelado pela maravilhosa Fernanda Torres e A Substância, protagonizado pela elegantíssima Demi Moore. Tirando os bons, o musical também concorre com a produção da Netflix, Emília Pérez, mas sobre este, deixo a palavra para Isabela Boscov.
Mundialmente o filme arrecadou quase R$ 700 milhões em bilheteria e se consagrou como a maior da história em um musical da Broadway adaptado para o cinema. Ariana Grande e Cynthia Erivo arrasaram. Sinto muito muito Taylor Swift, mas você não conseguiu fazer o barro acontecer com Cats, mas voltando a falar de produção de qualidade, será que Wicked é tudo isso mesmo?
Pra quem curte musical, o filme é certeiro, pois logo nos primeiros minutos, já temos uma maravilhosa apresentação lírica com a Ariana Grande, no papel da doce e odiosa Glinda. Quem assistiu legendado aproveitou tudo de bom que a Ariana Grande tem a oferecer vocalmente, mas quem assistiu dublado também não saiu perdendo, pois Fabi Bang foi maravilhosa. Embora haja contradições de opinião com relação a isso, o que não é meu caso, pois para mim, tanto ela, como a Myra Ruiz, no papel de Elphaba entregaram tudo que era esperado, tendo em vista que elas dão vida às personagens nos teatros brasileiros.
Logo no início, acompanhamos a população de Oz em uma espécie de comemoração pela morte da Bruxa Má do Oeste, Elphaba, e neste momento, Galinda se junta com as pessoas em um coral e queima uma espécie de monumento de palha com a imagem da feiticeira. Neste primeiro ato podemos observar como a direção fez um ótimo trabalho de ambientação dos cenários. Poucos efeitos visuais foram utilizados. Milhares de flores foram plantadas, as casas da vila de fato foram construídas, as roupas e maquiagens impecáveis, principalmente das protagonistas. Então neste aspecto, não tenho o porquê reclamar.
Também é mostrado um pouco do passado da Elphaba, e nos é revelado que na verdade, ela não é filha do governador, pois sua mãe o traía com alguém, que no filme não é esclarecido. Essa pessoa, durante as visitas levava uma espécie de bebida alcoólica em um frasco verde para a mãe tomar. Talvez seja por isso que “Elph” tenha nascido verde e sua irmã, Nessarose, seja cadeirante. Desde o nascimento, ela já demonstrava seus poderes, e isso, aliado a sua cor, fez com seu suposto pai a desprezasse.
Logo mais, já na Universidade Shiz, ela conhece a Madame Morrible, professora de feitiçaria, que no mesmo instante se interessa pelos poderes de Elph e oferece a ela a oportunidade de estudar magia avançada e posteriormente trabalhar ao lado do Mágico de Oz. No entanto, ao longo da história, fica claro que Madame Morrible tem suas próprias intenções manipuladoras.
Nesta etapa da história, não podemos deixar de admitir que Galinda é uma pessoa insuportável e superficial, e assim como todos os outros, tinha preconceito com a cor verde de Elphaba. Posso citar diversos momentos em que ela foi egoísta e manipuladora, mas vamos logo à cena do chapéu, que pra mim, foi a mais marcante, onde ela dá um chapéu que ela odeia para Elph.
Mas a partir daí a relação das duas também melhora, e elas ficam cada vez mais parceiras e Galinda, que agora é só Glinda, parece tomar um pouco de juízo. Eu poderia falar um pouco sobre o príncipe Fiyero, mas neste momento da história ele não tem importância nenhuma, embora em alguns momentos ele tenha ajudado no desenvolvimento pessoal das protagonistas. Pra quem gostou dele e nunca assistiu o musical no teatro ou leu os livros, na segunda parte do filme ele vai ter mais destaque, acredite.
Indo para a reta final, quando Elphaba finalmente conhece o Mágico Oz, ela descobre que ele é um farsante. Um homem comum. Ele usa máquinas e truques para parecer poderoso, e ainda por cima persegue os animais de Oz, tirando a capacidade de falar deles. Elphaba, que sempre defendeu os mais vulneráveis, fica revoltada e decide lutar contra essa injustiça.
Depois de um monte de mal-entendidos e manipulações, Elphaba é acusada de ser uma bruxa má e vira a inimiga pública número um de Oz. Galinda, agora Glinda, tenta ajudar, mas acaba sendo usada como peça no jogo político de Madame Morrible e do Mágico. No final, Elphaba foge e se esconde, enquanto Glinda assume o papel de “Bruxa Boa” (mesmo que isso signifique esconder algumas verdades inconvenientes).
Dentro de todo o contexto do filme, o final é a melhor parte. O desenvolvimento da Elphaba é evidente e tudo acontece no mesmo momento em que ela canta a música Defying Gravity. Quem é sensível a sons como eu, com certeza vai se arrepiar com os vocais da Cynthia Erivo e também com a Myra Ruiz, dublada. É incrível como Cynthia tenha conseguido cantar daquele jeito em cima de uma vassoura no set de filmagens.
Tanto ela como Ariana Grande fizeram um ótimo trabalho de atuação, principalmente quando contracenaram juntas. Ambas têm uma química incrível, o que contribuiu para criar toda atmosfera de fraternidade ao longo do filme. Além disso, houveram outros acertos como a utilização de uma atriz com deficiência para interpretar uma personagem cadeirante. Os diretores pensaram em absolutamente tudo, inclusive ao final, quando conforme Elphaba canta, seus poderes aumentam e sua capa cresce. Tudo pensado e no devido lugar.
Diante de tudo isso, acredito e posso afirmar que sim, o filme de fato merece as indicações que teve, já vencer… ainda não sei, mas deixo isso pra academia do Oscar. Embora tenha gostado muito, não posso negar que quero Fernanda Torres como melhor atriz, meu sincero perdão Cynthia Erivo e Ainda Estou Aqui como melhor filme.