Quem nunca pensou, depois de uma decepção ou perda, que seria mais fácil viver distante das pessoas? A ideia parece tentadora: “Se eu não me apegar a ninguém, ninguém poderá me ferir.”
Esse pensamento traz uma sensação de proteção imediata. É como se construíssemos um muro em volta do coração para evitar novas dores. Mas será que esse muro nos protege de fato ou nos aprisiona?
O falso escudo da distância
Evitar vínculos pode até reduzir riscos, mas também elimina chances de apoio e afeto, que é primordial para a qualidade do nosso bem-estar.
O isolamento pode dar a impressão de segurança, mas no fundo deixa marcas silenciosas:
Solidão: a ausência de laços significativos pesa no dia a dia.
Feridas abertas: sem novas experiências, a dor do passado continua ditando nossas escolhas.
Vida sem cores: vínculos são fonte de alegria, troca e crescimento. Sem eles, a rotina se torna mais árida.
O que era um “escudo” contra a dor acaba virando uma prisão invisível.
Um olhar diferente
Proteger-se não precisa significar fechar-se. É possível encontrar equilíbrio entre cautela e abertura. Em vez de afirmar “não vou me apegar a ninguém”, podemos ressignificar assim: “Posso me permitir me aproximar das pessoas de forma gradual e consciente, escolhendo quem merece minha confiança.”
Dessa forma, não negamos a necessidade de cuidado, mas damos espaço para que relações saudáveis floresçam.
Um exercício prático
Para quem deseja testar essa nova forma de pensar, deixo um convite simples: No fim do dia, anote uma pessoa com quem você se sentiu seguro, nem que seja em um detalhe pequeno.
Em seguida, escreva um gesto de aproximação que pode experimentar amanhã: agradecer, mandar uma mensagem, compartilhar algo positivo.
Repita por uma semana e observe como pequenos passos podem abrir espaço para vínculos mais leves e nutritivos.
Apego saudável não é sinônimo de fraqueza, mas de coragem.
Permitir-se criar laços é aceitar que, mesmo com riscos, a vida ganha mais cor, sentido e força. No fim das contas, não é o apego que machuca, mas sim o medo de viver.
Francisco Souza – Psicólogo (CRP 24/02932)
Instagram: @psifranciscosouza




