Todo início de ano traz a sensação de recomeço. É quando surgem as promessas, os planos e a esperança de que, com a virada do calendário, a vida também mude.
Mas a Psicologia nos ensina algo importante: mudanças duradouras não dependem apenas de força de vontade. Elas dependem de como a pessoa se organiza emocionalmente para lidar com metas, frustrações e ajustes ao longo do caminho.
Pesquisas brasileiras mostram que pessoas que aprendem a planejar melhor, acompanhar o próprio progresso e fazer ajustes quando necessário conseguem sustentar mudanças por mais tempo e com menos sofrimento emocional .
Por que tantas promessas de Ano Novo não funcionam?
Porque muitas metas nascem da cobrança excessiva, da comparação com os outros ou do medo de errar.
Frases como: “Esse ano eu não posso falhar”, “Preciso dar conta de tudo” são muito comuns, mas colocam a pessoa em um estado constante de tensão.
A Psicologia mostra que metas baseadas apenas em resultado, aparência ou aprovação externa até podem gerar esforço no começo, mas costumam aumentar ansiedade e frustração. Quando surgem dificuldades, e sempre surgem, a tendência é desistir.
O que a ciência mostra que funciona melhor?
Funciona melhor quando a pessoa muda o foco: menos cobrança, mais aprendizado.
Em vez de prometer transformações radicais, é melhor perguntar: O que eu preciso aprender sobre mim neste novo ano?
Que hábitos emocionais posso desenvolver para viver melhor?
O que posso melhorar aos poucos, sem me violentar?
Estudos mostram que esse tipo de postura aumenta a persistência e protege a saúde mental ao longo do tempo.
Autoconhecimento: o verdadeiro ponto de partida
Um estudo brasileiro publicado em 2024 mostrou que, quando as pessoas são estimuladas a refletir sobre quem são, o que sentem e como funcionam, elas passam a tomar decisões mais conscientes sobre o futuro.
Antes disso, muitas se descrevem de forma vaga:
“Sou normal”, “sou qualquer um”.
Depois desse processo de reflexão, conseguem identificar com mais clareza:
seus pontos fortes, suas dificuldades, o que as motiva, e o que costuma atrapalhar seus planos. Sem esse olhar para si, qualquer projeto de Ano Novo fica frágil.
Motivação saudável não nasce da pressão
Outro ponto essencial para a saúde mental é entender que motivação não é cobrança.
Mudar apenas porque “tem que mudar” pode até gerar movimento, mas dificilmente sustenta mudanças ao longo do ano.
Quando a pessoa entende por que algo é importante para a sua vida, ela se engaja mais, persiste mais e sofre menos no processo.
Agir por escolha é muito mais saudável do que agir por obrigação.
Mudança não é um caminho reto
Mudar não acontece de forma perfeita. É um processo feito de tentativas, ajustes e recomeços.
Pessoas emocionalmente mais saudáveis não são aquelas que nunca erram, mas aquelas que conseguem olhar para o erro como um sinal de que algo precisa ser ajustado e não como prova de fracasso.
Errar faz parte do processo de aprender a viver melhor. Um cuidado importante
Pessoas muito autocríticas costumam entrar no Ano Novo com metas baseadas no medo:
“Não posso errar.”
“Não posso parar.”
“Não posso falhar.”
Esse tipo de postura aumenta ansiedade, esgotamento e abandono precoce dos planos. Substitua essas frases por perguntas mais cuidadosas:
O que posso ajustar?
O que aprendi com isso?
O que está ao meu alcance agora?
Para começar o Ano Novo com mais saúde mental
A ciência aponta três atitudes simples e eficazes:
Menos promessas grandiosas
Mais metas possíveis
Mais foco em aprender do que em se cobrar
Talvez a pergunta mais importante para este Ano Novo não seja:
“O que eu vou conquistar?”
Mas sim:
“Quem eu quero me tornar e o que posso aprender para chegar lá?”
Cuidar da saúde mental também é aprender a caminhar com mais consciência, flexibilidade e gentileza consigo mesmo. E isso aumenta não só as chances de mudança, mas também de bem-estar ao longo do ano.
Francisco Souza
Psicólogo – CRP 24/2932




