Vivemos em uma fase do capitalismo e das relações de consumo em que a mercadoria se tornou um fetiche. Compramos o que não precisamos para mostrar quem não somos a pessoas que não conhecemos.
É o espírito do nosso tempo: nosso “zeitgeist”. As rodas do capitalismo precisam girar para gerar capital, emprego e renda. Somos as engrenagens ou quem, cansado e taciturno, se esforça para deixa-las funcionantes dia e noite, sem parar.
É comum, portanto, que dentro deste contexto que reduz a vida ao consumo que associemos o tempo ao dinheiro; mas aqui propomos ao leitor, com o mote de tornar o consumo consciente, um olhar mais amplo sobre o assunto.
Tempo não é só dinheiro: tempo é vida.
O Tempo, na perspectiva da pessoa natural, é – como costumo dizer – a medida finita da nossa existência. Nascemos, crescemos, amamos e morremos dentro de uma perspectiva definida de tempo e espaço. Parafraseando o saudoso poeta de Alegrete: “quando se vê já são seis horas!”; e, assim, sob o tear do tempo nossa vida passa indiferente, simplesmente, até que, um dia, chega ao fim.
“Cada ano que passa fica mais curto, parece que nunca temos tempo para planos que ou não dão em nada ou meia página de linhas rabiscadas.” (trecho de Time, da banda Pink Floyd).
Pelo seu altíssimo valor, hoje falamos que o Tempo – ou a forma como usá-lo – é direito subjetivo da pessoa natural: cada um deve fazer uso do seu próprio Tempo da forma como melhor lhe convier. Daí que qualquer investida indevida de terceiros em nosso tempo livre é uma injusta agressão que merece rechaço e reparo.
Infelizmente no âmbito das relações de consumo o desperdício do tempo do consumidor é comum. São exemplos corriqueiros as quilométricas filas bancárias, que as vezes fazem voltas nos quarteirões, as esperas excessivas em call centers, a necessidade de ir e voltar diversas vezes em estabelecimentos comerciais para resolver problemas que não foram causados pelo consumidor e etc., situações que nos obrigam a desperdiçar tempo e alterar, de forma coagida, o rumo que queremos dar as nossas vidas.
O prejuízo decorrente do tempo desperdiçado e da vida alterada é o pilar da teoria do desvio produtivo do consumidor, que apresenta aplicabilidade crescente em nossos Tribunais, inclusive no Tribunal de Justiça do Estado do Acre, e é o tema central do presente texto:
“O desvio produtivo caracteriza-se quando o consumidor, diante de uma situação de mau atendimento, precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas competências — de uma atividade necessária ou por ele preferida — para tentar resolver um problema criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza irrecuperável”
Passou por uma situação que envolveu a perda do seu tempo livre? Buscar o PROCON é um bom começo. Caso não resolva o problema, procure um Advogado ou um Defensor Público. O tempo não volta atrás. Não temos como recuperar o tempo perdido.
Quanto vale o seu tempo?