Estudo busca saber se ação é anti-inflamatória ou anticancerígena
Duas importantes pesquisas vêm sendo desenvolvidas no Laboratório de Produtos Naturais, Microbiologia e Biotecnologia do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da Universidade Federal do Acre (Ufac).
Sob orientação do professor Carromberth Carioca Fernandes, as bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI-CNPq), Pollyanna Nascimento e Jéssica Vanessa Leite, dedicam-se há um ano ao estudo de fungos específicos. Estudantes do curso de Química, as bolsistas optaram por caminhos opostos na linha de pesquisa.
Pollyanna, por exemplo, desenvolve um trabalho inédito no Estado. A partir das folhas da árvore seringueira (Hevea brasiliensis), a universitária isolou e multiplicou um fungo endofítico ainda não identificado.
“Como se trata de uma pesquisa nova, não sabemos ao certo seu nome científico. É possível, inclusive, que se trate de uma nova descoberta, mas só uma análise aprofundada poderá assegurar. O material será enviado para um laboratório fora [do Estado]”, explica a pesquisadora.
Na natureza, seringueiras e fungos endofíticos convivem harmonicamente em uma relação de favorecimento recíproco (simbiose). As árvores fornecem a glicose que é uma fonte de alimento para os fungos, ao passo que estes abastecem as seringueiras com metabólicos secundários, substâncias responsáveis pela interação, proteção e sobrevivência da planta com seu meio. O alvo da pesquisa é exatamente essas substâncias. “São esses metabólicos secundários o nosso grande interesse. É neles que encontramos ativos medicinais de interesse farmacológico”, resume Carromberth.
Para chegar aos metabólicos secundários, Pollyanna precisou de tempo. O primeiro passo foi recolher folhas jovens de seringueiras da própria Ufac; depois realizar uma assepsia do material (para retirada de impurezas e outros corpos irrelevantes para o estudo); fragmentar as folhas e as submeter a um meio adaptado de cultivo que ainda é mantido sob sigilo. “Acreditamos que o êxito do resultado esteja ligado a esse meio adaptado. Se ficar comprovado, isso pode trazer à Universidade uma patente”, comemora Pollyanna. Em uma fase já de extrato, o material foi então submetido a análises que só então identificaram a presença das substâncias procuradas. Três no total.
“A segunda etapa do trabalho implica encaminhar essas três substâncias a uma espectroscopia de ressonância magnética nuclear de carbono 13 e hidrogênio a Manaus, no Instituto Nacional de Pesquisas Avançadas (Inpa). Nossa meta é encaminhar ensaios farmacológicos para descobrir qual a função ativa dos compostos, se anti-inflamatória ou anticancerígena, por exemplo”, diz o orientador da pesquisa. “Se o fungo participa de uma relação de proteção à planta, por que com o ser humano não pode ser igual?”, completa Pollyanna.
Sarcharomyces
Jéssica Vanessa Leite, por sua vez, optou por estudar um velho conhecido do reino fungi, os Sarcharomyces cerevisiaes meyen. Apesar do nome difícil, esses fungos estão mais presentes na mesa do homem que se possa imaginar. Massas e bebidas alcóolicas fermentadas, por exemplo, contam com sua ilustre presença. “Os Sarcharomyces são muito conhecidos, mas a biotransformação, que é a mudança da estrutura de uma molécula a partir da ação de um fungo, ainda é pouco explorada. Daí a minha escolha”, explica Jéssica.
A pesquisa da estudante aponta para um efeito potencializador do fungo. A um meio de cultura adequado, a jovem acrescentou ácido acetilsalicílico (aspirina) e observou a formação de uma nova molécula, com efeito antioxidante (ação terapêutica). “O fungo se reproduz e produz enzimas que ao reagir com a aspirina alteram a sua estrutura formando um composto novo, agora mais eficiente que o inicial”, detalha a bolsista. Ela repetiu a operação com outros três ácidos: oxilático, aspártico e cítrico. O resultado foi o mesmo.
“Nós conseguimos comprovar a biotransformação com a produção de uma nova substância com maior capacidade antioxidante. Nosso objetivo é aprimorar o estudo para quem sabe contribuir para a descoberta de um novo fármaco ou substância capaz de auxiliar a ação dos já existentes”, planeja a jovem pesquisadora.
Além do efeito potencializador da biotransformação a partir do Sarcharomyces, outro benefício da pesquisa seria a utilização de uma metodologia de produção mais eficiente. De acordo com Jéssica, em ensaios tradicionais para a produção de fármacos é comum a presença de substâncias indesejáveis, pelo novo método, a nova substância é “quase 100% pura”, ressalta.