Governo erra ao não priorizar outras urgências
Governador Tião Viana já antecipou qual será a prioridade do segundo mandato na Educação: erradicar o analfabetismo. Ao menos por enquanto, quem está escalado para a missão é o pedagogo Moisés Diniz, derrotado nas últimas eleições à Câmara Federal.
Na prática, Diniz substitui Josenir Calixto, o diretor de Ensino que ajudou a construir as mudanças na estrutura da educação pública no Acre, ao lado dos professores Binho Marques, Sérgio Roberto e Maria Corrêa.
Calixto é um educador mas, nas horas vagas, assinava a carteirinha do PCdoB. Do ponto de vista político, não há nenhum “prejuízo” na análise do Palácio Rio Branco: troca-se um comunista por outro. Mas, do ponto de vista técnico, deve-se desconfiar da mudança.
O argumento mais evidente expõe o seguinte raciocínio: o analfabetismo é um mal que precisa ser combatido sempre, pelo que há de mais óbvio. Mas, no Acre, os problemas que precisam ser resolvidos com urgência na Educação estão longe disso: o analfabetismo não é a principal mazela na educação acriana.
“Bala de prata”_ Calixto, repetindo um raciocínio do ex-chefe Binho Marques, gostava de falar: “em Educação, não existe ‘bala de prata’”. Isso significa dizer que não há um remédio determinado, feito em algum laboratório, que se aplica ao sistema para mantê-lo funcionando a contento.
O que existe é um “processo”: nos 16 anos de governos da Frente Popular, houve avanços evidentes na Educação. E o que a sociedade não pode permitir é que ocorram recuos somente para dar visibilidade a uma estratégia midiática.
O que significa “realizar a utopia de erradicar o analfabetismo”, no governo de Tião Viana? A ideia paradoxal, do ponto de vista técnico, não tem nenhum valor. O que se deve buscar como meta constante de trabalho é a “alfabetização na idade certa” (para usar um cacoete dos gestores do setor).
A vergonhosa estatística que havia em 1999 foi combatida de forma emergencial. Agora, o que existe é um resíduo: há pessoas que não irão (e outras não querem) ser alfabetizadas. E o poder público precisa compreender essa situação e focar naquilo que mais interessa: a Qualidade do Ensino nas escolas; a relação Professor/aluno; a defasagem idade/série; valorizar e priorizar a Educação Básica nos municípios (falidos).
História_ Quando Fernando Henrique Cardoso chegou ao poder, o Governo Federal trabalhou (e, em boa medida, conseguiu) efetivar a universalização do Ensino, com as ideias massificadas de “lugar de criança é na escola”; “toda criança tem que estar na escola” etc. O acesso ao ensino público é uma realidade para a maioria hoje.
Na gestão de Lula, houve avanços também. É inegável. Mas, aí, o desafio já era outro. Para usar uma imagem simplista: no governo Lula, o que se queria melhorar guardava relação com o momento em que os alunos entram na sala e a professora fecha a porta.
Nesse instante, a sala de aula virava uma “caixa preta”. As crianças estavam ali, diante da professora, mas a apreensão do conteúdo ainda era um mistério. Em boa medida ainda é. Precisa-se priorizar a Qualidade do Ensino; o nível de aprendizado do conteúdo e conceitos correlatos.
Em 2018, a “estatística criativa” do Palácio Rio Branco vai estampar: “Tião Viana erradica analfabetismo no Acre”. É essa manchete que se busca. E as manchetes já devem estar sendo formuladas.
Um detalhe expõe a fragilidade da agenda de Tião Viana no que se refere à Educação. O leitor, ao longo desses quatro anos, é capaz de lembrar com alguma facilidade imagens do governador erguendo sacos de sementes; segurando peixes; levantando três espigas de milho; sorrindo ao lado de um leitão. Mas, quantas agendas o leitor se lembra do governador em uma escola pública?
Continuidade_ Não fosse a seriedade (frisa-se: e a continuidade) dada por figuras como Josenir Calixto e Daniel Zen, a Educação no Acre teria dado recuos perigosos. Marcos Brandão, o atual secretário, não pode permitir ser tragado pelo marketing. É preciso preservar as estratégias que funcionam e colocar a sua digital em investimentos na Educação Básica. Se o Estado não perceber isso, os municípios irão sucumbir a partir de 2015. e com eles, um retrocesso na Educação.