Casal adota seis irmãos: gesto raro
No dia 25 de maio, é comemorado o Dia Nacional da Adoção. Antecipando a data, fomos conhecer as experiências de duas famílias com filhos adotivos. Um casal que adotou uma criança e outro que adotou seis.
Márcia Valéria e Carlos Negreiros ficaram na fila da adoção por seis anos até que finalmente, chegou o Gabriel. O sonho de formar uma família está quase completo, já que eles estão aguardando a guarda definitiva do garoto. Contudo, para o casal, a cada dia aumenta a certeza de que foi a melhor decisão tomada em conjunto.
“Graças a Deus ele tá vindo de uma forma legal. Surgiram oportunidades para adotarmos crianças nesse período, mas a gente não queria daquela forma e sim, através da justiça, depois de um processo legal”, comenta o pai.
Márcia tem uma irmã adotiva, e isso acentuou o desejo de adotar uma criança.
Quando finalmente recebeu a notícia de que Gabriel, na época com 1 ano e 7 meses, estava disponível, foi uma sequência de diferentes emoções.
“Na adaptação, a gente ficou com ele na quinta e sexta e deixamos no sábado. No domingo, eu chorei. Na segunda, o pai ficou de plantão no Juizado. Quando me ligou dizendo que ele ia dormir naquele dia com a gente, foi emocionante. Quando viu a gente, abriu os braços e o sorriso. Foi um sonho esse dia”, relata a mãe.
Para o casal, hoje a família está completa. Um vive para outro e só falta a decisão final da Justiça para selar de vez a união de pais e filho.
“O Gabriel mudou nossa vida, hoje manda e desmanda lá em casa. É claro, com as devidas regras. Ele já se adaptou com a gente. Tem pessoas que dizem que ele teve sorte. Eu digo o contrário, nós que demos sorte”, afirma Negreiros.
Os casais que querem adotar crianças precisam procurar o Juizado da Infância e Juventude. O mesmo vale para mulheres grávidas que não podem ou não querem ficar com o bebê. A psicóloga Rutilena Tavares explica que ambos os casos recebem acompanhamento específico.
As pessoas inseridas no Cadastro Nacional de Adoção conhecem, através de um serviço multiprofissional, os desafios e recompensas que a adoção pode trazer.
“A gente explica os tipos de adoção, consequências, como lidar com o medo, o preconceito. Falamos do tempo da adaptação, quando revelar sobre a adoção. É disso que tratamos no grupo”, explica.
Inês e Washington aguardaram a resposta do cadastro de adoção por cinco anos, até que em 2012 chegou o Efrain. O garotinho ainda estava na barriga da mãe biológica quando foi doado para o casal.
“A mãe ligou, na época grávida de 4 meses. Mora em Brasileia. Estive com ela, tentei convencê-la a ficar com o bebê, mas me disse que já tinha dois e que não queria mais um. Trouxemos ele, com três dias de nascido”, explica Inês.
E depois veio o Luiz Fernando (3), o Carlos Hernique (5), a Maria Eduarda (7), o Carlos Eduardo (8) e a Hadassa (1). Na época, eles tinham entre 6 meses e 7 anos de idade. Esses cinco são irmãos biológicos e estavam abrigados no Educandário Santa Margarida, quando conheceram os pais adotivos.
Washinton conta que conheceu os filhos no momento em que foi visitar outro grupo de irmãos, que estavam aptos a adoção. “Me ligaram dizendo que tinha um grupo com quatro crianças para adotar, minha esposa aceitou o desafio e fomos lá. Mas o primeiro grupo não nos recebeu como pais, mas o segundo com cinco crianças chegou e um deles veio a mim e perguntou: você que vai ser meu pai? A partir dali, começou o relacionamento entre nós”, explica.
O casal não planejou adotar tantos filhos. Cogitavam no início, no máximo, três. Inês não pode gerar filhos, mas mesmo antes de saber do diagnóstico, ela e o marido queriam filhos de adoção.
Hoje eles não veem no número uma dificuldade, e sim, um propósito, uma missão envolvida por muito amor. “A gente sabe que Deus dá de acordo com a nossa capacidade. Então, se nos deu seis crianças para cuidar e ser pai, vamos cuidar e fazer o melhor por elas”, disse Washington.
“Não é fácil, mas a gente é fortalecido todos os dias. Creio que o amor é maior que qualquer desafio”, comenta a mãe.
A rotina da família mudou e o trabalho se multiplicou, mas os pais são tranquilos e conseguiram encontrar o caminho para a educação e a organização coletiva. A família passou por uma adaptação. Inês, que era professora, parou de trabalhar para se dedicar à maternidade. O carro teve que ser trocado e a opção foi por uma Van, de 12 lugares. O pai adicionou categoria à habilitação e a família já fez algumas viagens juntas, desde a nova aquisição.