A cidade de Mâncio Lima, no interior do Acre, foi abalada pelo brutal assassinato da estudante de farmácia Graziely Lima de Oliveira, de 19 anos, na última sexta-feira (17). A jovem foi morta a facadas, e o principal suspeito é o ex-companheiro, Pedro Tarik, que, segundo familiares, já a perseguia há três dias antes do crime.
Graziely era descrita por seus familiares como uma jovem sonhadora e uma filha exemplar. Filha de Hélio, um sargento falecido em 2024, ela era conhecida por seu comportamento tranquilo e discreto. “Ela não dava problema nenhum, tinha muitos sonhos”, afirma o primo da vítima, Wesleyn Silva. Apesar de não relatar abertamente os problemas do relacionamento, Graziely teria confidenciado a amigos que “não dava pra continuar com Pedro”.

Relacionamento Silenciosamente Perigoso
O primo, relata ainda que Graziely e Pedro estavam separados há cerca de um ano, após um relacionamento que, à primeira vista, parecia tranquilo. “Não sei exatamente quanto tempo ficaram juntos, mas tinha mais ou menos um ano do término. Ele era calado, mas ela dizia que ele a tratava bem e gostava dele”, revelou.
Apesar de um início aparentemente pacífico, o relacionamento terminou em silêncio, com Graziely se afastando sem muitos detalhes. De acordo com as informações do familiar, Pedro Tarik não aceitava o término do relacionamento. “Houve ameaças por parte de Pedro sim!”, relatou a família. Segundo o relato, ele ameaçava Graziely constantemente, afirmando que iria se matar caso ela não reatasse o namoro.
Nos três dias que antecederam o crime, Pedro foi visto rondando a casa de Graziely, tentando encontrá-la sozinha. Sua irmã, Tatiane, estava sempre por perto, mas na fatídica sexta-feira, Graziely foi encontrada morta por Tatiane. A suspeita é de que Pedro a tenha forçado a sair de casa, usando uma arma branca. A cena deixada para trás – celular, porta e portão abertos – indicava algo anormal.

Alerta às Mulheres
A Procuradora de Justiça Patrícia de Amorim Rêgo destaca que a violência doméstica nem sempre é visível. “É comum as mulheres identificarem a violência física, mas não terem conhecimento sobre as demais violências que sofrem”, explica. A violência doméstica não é apenas a agressão, ela pode ser identificada em diferentes ciclos, sendo eles: violência psicológica, patrimonial, moral, sexual e física. Todos os ciclos podem levar ao feminicídio. A violência psicológica e moral, embora não deixe marcas no corpo, pode ser devastadora.
Além disso, a advogada Tatiana Martins alerta para sinais de violência que muitas mulheres ignoram quando estão sendo oprimidas e a mercê de ameaças do companheiro: “Nós sempre estivemos em estado de vulnerabilidade, desde quando nascemos somos hiper-sexualizadas, sempre precisamos estar atentas. Provavelmente a violência vai advir dessa necessidade de o homem manter o controle”, acrescenta
Durante o interrogatório, Pedro confessou o crime, alegando uma suposta traição de Graziely como motivação. No entanto, a família da jovem refuta essa acusação, afirmando que não houve traição. “Ele fala isso porque ela não está entre nós para se defender!”, desabafou o primo, Silva. O delegado Marcílio Laurentino confirmou que Pedro confessou o crime, mas as investigações continuam para esclarecer todos os detalhes.
A tragédia de Graziely Lima de Oliveira é um alerta sobre os perigos da violência de gênero e a urgência de medidas preventivas eficazes. O silêncio pode ser fatal, e a sociedade precisa estar atenta para oferecer suporte e proteção às vítimas antes que seja tarde demais.
Canais de ajuda
Para combater a violência de gênero, é essencial que mulheres tenham acesso a redes de apoio e proteção. O acolhimento da vítima é essencial para romper o ciclo de violência e desvincular-se do agressor. É fundamental contar com uma rede de suporte, que pode incluir familiares e amigos, além de serviços especializados que oferecem assistência jurídica e psicológica.
As vítimas podem procurar a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) pelo telefone (68) 3221-4799 ou a delegacia mais próxima.
Também podem entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher, pelo Disque 180, ou com a Polícia Militar do Acre (PM-AC), pelo 190. Outras opções incluem o Centro de Atendimento à Vítima (CAV), no telefone (68) 99993-4701, a Secretaria de Estado da Mulher (Semulher), pelo número (68) 99605-0657, e a Casa Rosa Mulher, no (68) 3221-0826.